Sacolas plásticas: um inimigo invencível? Por Chris Santos.

Em 2011, a cidade de São Paulo deu um passo ambicioso na tentativa de reduzir o impacto ambiental das sacolas plásticas, implementando a lei municipal nº. 15.374 que proibe a distribuição gratuita dessas sacolas. A missão era clara: incentivar o uso de sacolas reutilizáveis feitas de material resistente. Quatro anos depois, essa iniciativa foi reforçada pelo Decreto nº. 55.827/2015, que estabeleceu que as sacolas distribuídas deveriam ser fabricadas a partir de materiais de fontes renováveis e tecnologias sustentáveis, além de especificar dimensões mínimas e cores diferenciadas para facilitar a separação dos resíduos sólidos.

No entanto, passados mais de dez anos desde a implantação da lei, os resultados ainda são muito insuficientes. Houve, é claro, um movimento inicial de entusiasmo: debates acalorados, reportagens nos meios de comunicação, consumidores buscando alternativas como caixas de papelão e carrinhos de compras, e um aumento na procura por sacolas retornáveis. Porém, o que se viu ao longo do tempo foi uma adaptação um tanto decepcionante – talvez até um esquecimento do assunto e da lei. Grandes redes de supermercados, como Pão de Açúcar e Carrefour, passaram a cobrar pelas sacolas, o que não inibiu seu uso contínuo; enquanto algumas outras empresas, como a Renner e a Drogasil, adotaram sacolas de papel. A maioria dos varejistas ainda distribui sacolas plásticas indiscriminadamente. Outros municípios pelo Brasil também criaram leis similares, como Rio de Janeiro e Salvador, mas será que terão efeito sem uma mobilização nacional?

O impacto ambiental das sacolas plásticas continua a ser um problema significativo e global. Elas podem levar até 500 anos para se decompor, contribuindo para a poluição do solo e a disseminação de microplásticos. Nos oceanos e florestas, animais sofrem e muitas vezes perecem em decorrência do descarte inadequado dessas sacolas, que persistem como uma ameaça concreta à biodiversidade.

No cenário político, o tema parece ter sido esquecido. Os candidatos a prefeito de São Paulo raramente mencionam a questão, e os vereadores parecem mais ocupados com outras pautas, como a perseguição a padres que fazem caridade para os sem-teto. A “cultura da sacolinha de plástico” ainda prevalece nos estabelecimentos comerciais. Em algumas lojas, recusar uma sacola desencadeia olhares fulminantes aos operadores de caixa e balconistas, como se essa atitude fosse uma afronta.

E onde estão as grandes empresas, como Braskem e iFood, que poderiam liderar esforços significativos para reduzir o uso de sacolas plásticas? Os avanços parecem mínimos ou inexistentes. O ser humano corre o risco de acabar soterrado por sua própria criação, enquanto o dano já está sendo irreparavelmente feito à fauna marinha e terrestre. A esperança é que um dia, ações coordenadas de governos, empresas e sociedade civil possam transformar essa realidade, antes que seja tarde demais. Até lá, o legado das sacolas plásticas permanece como um lembrete contínuo dos desafios que ainda temos que enfrentar na luta por um mundo mais sustentável. A minha percepção é a de que as sacolas plásticas se tornaram um inimigo quase invencível.

Chris Santos é profissional com 30 anos de experiência em agências de comunicação, relações públicas, assessoria de imprensa, eventos e marketing digital. Clientes atendidos: Associação Brasileira das Empresas de Software, Unilever, Avon, Lojas Renner, Karsten, Mahogany, Adcos, entre outras. Graduada em Relações Públicas (1990) e em Ciências Sociais (1997) pela USP, com especialização em Gestão de Processos Comunicacionais (USP), MBA em Gestão de Marcas (Branding), pela Anhembi-Morumbi, e mestre em Comunicação e Política pela UNIP. Tem se dedicado ao estudo de tendências nas áreas de marketing digital, comunicação e política e tecnologias da comunicação e informação.