Ressignificando a saudade. Por Neusa Medeiros.

Ninguém fica imune à saudade. É fato. Às vezes a lembrança nem é do outro, é de nós mesmos, traduzida no que já vivemos ou nas experiências sonhadas.

Esse vazio cheio de tudo ensina a estar atento aos detalhes. Assim como o escritor Augusto Cury, sei que os sensíveis sofrem mais, mas amam mais e sonham mais. Afinal, do que vale essa vida se nos distanciarmos dos sentimentos para não sofrer? Sentiremos falta, sim, de quem não nos despedimos direito, das coisas que deixamos passar… como registrou a escritora Clarice Lispector.

Tentamos driblar esse sentimento forte, essa saudade, que não existe outra palavra no mundo capaz de traduzir literalmente o seu significado, mas que de fato é sentida por todos em algum momento da vida.

Quando a saudade nos pega desprevenidos, vamos tentando preencher possíveis lacunas, superando, como podemos, a falta da proximidade, do convívio, das histórias, dos instantes juntos que ficaram reservados. Viver é também reparar nestas vivências que vão se acumulando ao longo dos anos, tendo consciência que algumas serão lindas em qualquer tempo e espaço, e outras nem tanto. Colecionar momentos nos dá a certeza de que já estivemos lá. Como seria a vida sem as lembranças? Poder revisitar o passado e voltar para o presente sem tristezas, sem culpas, nos fortalece para o futuro.

Na prática, como diz a música da banda Jota Quest, vivemos esperando dias melhores. Por mais que algumas vivências sejam dolorosas, algumas pessoas insubstituíveis, é importante saborear cada experiência, acreditando que nada é em vão. Cultivar boas lembranças não é viver no passado. É reconhecer a felicidade em porções e ser grato pelo tempo já vivido. Quando estou num momento muito especial fecho os olhos e o fotografo na alma, como tatuagem, para ser revisitado quando quiser. Vai tudo para a caixinha das boas lembranças. É um bálsamo e permite reforçar a ideia – eu vivi!

Sabemos que o tempo não volta. Mas como registra o poeta Allan Castro, que bom que o tempo passa e leva o passado, mas não o que passamos.

Neusa Medeiros é jornalista, com pós-graduação em Metodologia do Ensino Superior. Sócia-diretora da empresa Edição 3 – Comunicação Empresarial, com diversificada atuação na área. Atuou, por vários anos, como assessora de imprensa e professora universitária na Unisinos, e como colunista no Jornal VS, do Grupo Editorial Sinos, onde segue como colaboradora.