Reputação, vulnerabilidade e cultura da coragem. Por Nayara Brito.

Na reputação, vulnerabilidade é força ou fraqueza? Ao mesmo tempo em que expor aspectos não tão aceitáveis ou fáceis de lidar é um ato de coragem, que se bem administrado pode se tornar força reputacional, por outro, pode ser sinônimo de um risco que, assim que corrido, pode ter uma conotação negativa e desencadear uma grande crise de imagem. Por isso pergunto: vale o risco ser “de verdade”?

Se você parar para analisar os discursos das pessoas, principalmente das personalidades públicas, que participam de reality shows, por exemplo, verá o anseio de cada um em se mostrar “de verdade”, por inteiro, com qualidades e defeitos. Talvez seja uma utopia estes participantes acreditarem que o público do outro lado da tela aceitará cada erro, deslize ou transparência do ser como ele realmente é, passando ileso pelo “tribunal da internet” e da sentença do cancelamento. O mundo digital pode ser diverso, mas não é tão empático e compreensível assim – ainda.

Talvez essa utopia seja um tanto saudável ou, melhor, necessária. Um ato de esperança, ainda que dolorido de se vivenciar. Isso porque temos a possibilidade de começarmos a praticar o exercício de desconstruir a ideologia da celebridade perfeita, da marca mais sustentável, da empresa perfeita, do melhor lugar para se trabalhar. Fomos acostumados com um discurso, sobretudo organizacional, que comunica o seu melhor lado, mas que de certa forma oculta, em nome da boa reputação, tem pontos que precisam ser revisitados. Aqui, nosso trabalho como relações-públicas pode até ser preventivo de pontos negativos, mas jamais pode beirar a incoerência institucional e, ser coerente no ambiente organizacional é assumir todos os lados da força na gestão da reputação: os bons e os não tão bons. É praticar e viver todos os dias a cultura da coragem.

Quem assume suas vulnerabilidades em público, sejam empresas ou pessoas, não é fraco, nem forte: é corajoso! Tenho lido conteúdos de empresas que têm, por meio do Employer Branding, transparecido e comunicado, principalmente para casos de processos seletivos, como é a real cultura daquele lugar, os prós e contras de sua cultura organizacional. Isso demonstra que não há mais espaços para autenticidades articuladas, ainda que esse posicionamento faça parte de uma estratégia de reputação, comunicação e negócio.

Estamos num constante treinamento humanitário e não tem sido fácil gerir a comunicação social, sobretudo no ambiente digital. Mas talvez seja o começo de uma era comunicacional e de uma geração de profissionais que têm o desafio de transformar cancelamento em acolhimento, vulnerabilidade em coragem e reputação em confiança genuína. De verdade. Vale o risco. Humanizar organizações também é sobre isso e, sim, pode ficar tudo bem.

Nayara Brito é relações-públicas e dedica suas escritas a temas que geralmente causam inquietações e questionamentos em sua mente. Sempre pautada em assuntos que se originam da comunicação como um todo, procura transmitir um pouco de suas reflexões, experiências e estudos por meio de seus conteúdos. Acompanhe seu trabalho também em https://www.linkedin.com/in/nayarabrito/