A REDAÇÃO É UMA COZINHA - Credibilidade em baixa. Quem vai pagar por isso? Existe esperança?

Hoje li – no Facebook – o post de um amigo lamentando demissões no jornalismo e anunciando que um conhecido seu desistiu da área e vai trabalhar com Uber. O mercado está ruim mesmo, nunca esteve pior e não dá sinais de recuperação. Pergunto: – Quanto dessa situação atual é de responsabilidade, ou tem a conivência, dos próprios jornalistas?

Primeiro recebemos o golpe do fim da exigência do diploma e muitas pessoas resolveram se aventurar na profissão. Jornalistas, sindicatos e órgãos de classe, nós tomamos alguma providência para que o jornalismo voltasse a ser valorizado? Nós nos manifestamos com veemência ao ouvir um ministro do STF comparar jornalistas a cozinheiros? Eu não deprecio cozinheiros, mas a comparação não foi elogiosa. Ao contrário, tinha o sentido de ‘são coisas que todos sabem fazer, é só tentar’.

Durante a campanha eleitoral de 2018, jornalistas escolheram um lado da disputa e fabricaram notícias que não tinham sustentação. E o candidato apoiado pela mídia foi condenado pela Justiça Eleitoral a pagar multa pela divulgação de ‘fake news’ – notícias falsas – ao fim de um processo eleitoral de extremos, que teve até o lance dramático de um candidato ferido por golpe de faca.

Depois da posse do eleito, que não era o escolhido pela mídia, o clima não melhorou. Até hoje não saímos do terceiro turno.

Os apoiadores do presidente organizaram no domingo (26/05) uma manifestação de apoio às reformas que o governo pretende fazer – e a disputa por protagonismo aumentou, principalmente nas redes sociais.

Por parte da imprensa, ficou clara a tentativa de manipulação de dados na emissora de maior audiência, em programa no horário nobre, domingo à noite. Um colunista famoso publicou foto em que os dizeres de cartazes foram alterados para prejudicar os manifestantes e a apresentadora de um programa de TV exibiu imagens de capivaras atravessando uma pista na capital federal para comparar aos manifestantes.

Diante de todos esses dados, deixo a pergunta: – É possível à imprensa recuperar a credibilidade perdida? É possível resgatar o papel e o índice de confiança dos meios de comunicação? É possível reduzir a discussão ideológica que tomou conta do país antes, durante e depois da eleição? É possível esperar, por parte da imprensa, informações isentas e livres de opinião? Afinal, ficou esquecido o princípio de informar e deixar que o leitor forme opinião?

Com as redes sociais é difícil impedir a divulgação de informações. A mídia ‘mainstream’ não tem (mais) o monopólio. Blogues, mídia alternativa e redes sociais são fonte de informação cada vez mais respeitadas. E os erros – involuntários ou intencionais – caem em domínio público.

De que forma meios de comunicação e jornalistas podem sair da crise? Quem se atreve a responder?

Ruth Simões. Nasci jornalista. Não me imagino fazendo outra coisa, nem sabendo que a esta altura da vida não fiquei rica. Em compensação, vivo feliz. Comecei na assessoria de imprensa do Projeto Rondon, depois de passar pela Rádio e TV Nacional, jornal Zero Hora e página de Televisão do Jornal de Brasília. Integrei as assessorias de imprensa do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, Ministérios do Trabalho e da Previdência, Radiobrás, TV Globo, TV Bahia, Rádio Senado e tribunais, onde fiz uma espécie de especialização e fiquei nos últimos anos: Tribunal Superior Eleitoral, Superior Tribunal de Justiça e TV Justiça, no Supremo Tribunal Federal. Sou repórter, editora multimídia e presto consultoria em Comunicação.