Quem fala o que não deve... recebe o que merece! Por Andrea Nakane.

Recentemente, a dupla sertaneja Zezé Di Camargo e Luciano demitiu sua backing vocal por fala polêmica relacionada à culinária nordestina, comparando a comida regional a uma lavagem.

A polêmica começou durante a passagem da dupla em Floresta (PE) na quinta-feira (19 de junho). A backing vocal Bianca Alencar postou um story recomendando que os seguidores paulistas valorizassem São Paulo: “Valorizem demais os restaurantes que tem, qualquer lugar que você vai, até aqueles botecos que tem PF. Valorizem, gente. Porque só a gente sabe o perrengue que é fora”.

Ela criticou a comida de um restaurante local. Bianca disse que não conseguiu comer, mesmo já tendo pagado pela refeição: “Aquele negócio melequento. Arroz melequento, feijão melequento, frango… A aparência e o sabor também, Nossa Senhora. Cara, que almoço terrível. Eu paguei e não comi. Não dá. Tanto pelo visual, que parecia… Deus que me perdoe, parecia lavagem”.

Em seguida, Bianca postou outro story dizendo que não havia criticado a culinária local. Ela disse que cresceu comendo comida nordestina, porque seus pais são do Nordeste. “Em nenhum momento eu falei mal da cidade, isso acontece em São Paulo. Em São Paulo tem mais variedade para comida? Tem. Mas tem coisa ruim? Tem também, tem em todo lugar”, afirmou.

Bianca diz que só queria expor os “perrengues” da vida artística. “Às vezes a gente chega e não tem hotel adequado para ficar, às vezes não tem toalha, sabe? A comida às vezes está estragada porque está lá há muito tempo e não tem mais nada, então a gente tem que comer”, relatou. Bianca desativou o perfil no Instagram após as críticas.

É… na ânsia de postar tudo, de qualquer forma e conseguir likes as pessoas extrapolam o bom senso e respeito.

A comunicação não pode ser construída de forma irresponsável e grosseira. Isso não agrega, não constrói pontes e sim muros, repulsas.

Ao dizer: “Eu não queria”, significa que ao elaborar sua mensagem, a senhora em questão não mensurou o que teria de consequências, que ruídos poderiam ser gerados, que mágoas poderiam ser incitadas por sua narrativa.

Comunicação é tornar algo comum, mas, a intencionalidade deve sempre operar no fomento de relacionamentos saudáveis, de trocas, de um verdadeiro diálogo.

Frente a tal comparação, Bianca não buscou incluir seus receptores, ela excluiu não só os nordestinos, mas uma imensa gama de pessoas com consciência e empatia, que não se calaram frente a tal exposição e buscaram, no contexto digital, cancelar a figura em questão. É doído, a prática do cancelamento, mas em vários momentos é a ferramenta de punição encontrada na tentativa de não ser cúmplice de atrocidades digitais.

Por isso, a demissão da funcionária tem total justificativa já que uma omissão no caso associaria a imagem da dupla de artistas ao pensamento de Bianca.

Quem cala, consente e a dupla, que tem voz, decidiu deixar explícito a sua não concordância com o fato, tomando a decisão de desligamento da funcionária.

Uma marca pessoal pode ser afetada por outra, em função de proximidade e vínculos sociais ou corporativos. Razão pela qual, na afirmação do estudioso Mário Rosa, não existe mais o público separado do privado.

As redes sociais exemplificam bem isso. Não há algo em off, tudo é compartilhado e, por isso mesmo, a responsabilidade precisa ser redobrada. O que um funcionário externa, automaticamente é associado a uma marca e conforme for a situação ela pode se ver envolvida em uma crise de imagem, em função da associação com aquele profissional.

Se os colaboradores, na atualidade, também estão sendo classificados como “embaixadores internos” ou até mesmo influenciadores internos, com extensão ao meio externo, é prerrogativa mais que necessária institucionalizar orientações e até mesmo diretrizes que evitem possíveis situações de crise de imagem envolvendo posicionamentos, verbalizações e postagens que sejam contrárias à cultura institucional (de uma dupla sertaneja, de um grupo maior, ou até de um artista individual).

São novos tempos, novos meios, e é preciso uma mentalidade zelosa para lidar com essas novas condicionantes.

Uma fala preconceituosa, ferina e vil pode craquelar anos e anos de uma construção reputacional preciosa, reforçando a famosa frase de Warren Buffett: “São necessários 20 anos para construir uma reputação e apenas cinco minutos para destruí-la”.

No universo das redes sociais, esse tempo diminui ainda mais… para três minutos… formato do reels

Andrea Nakane é bacharel em Comunicação Social, com habilitação em Relações Públicas. Possui especialização em Marketing (ESPM-Rio), em Educação do Ensino Superior (Universidade Anhembi-Morumbi), em Administração e Organização de Eventos (Senac-SP), e Planejamento, Implementação e Gestão da Educação a Distância (UFF). É mestre Hospitalidade pela Universidade Anhembi-Morumbi e doutora em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo, com tese focada no ambiente dos eventos de entretenimento ao vivo, construção e gestão de marcas. Registro profissional 3260 / Conrerp2 – São Paulo e Paraná.