Quem diria? Pesquisa atesta a dificuldade do brasileiro com empatia... Por Luciana Goloni.

Mas não somos um povo simpático e cordial?

Brasil fica em 51º. lugar em ranking de pesquisa que avaliou a empatia com base na nacionalidade das pessoas que fizeram parte do estudo. Um lugar preocupante, visto que apenas 63 países compuseram a base do levantamento.

Em outubro de 2016, a Universidade de Michigan publicou esta pesquisa, na qual ranqueou o nível de empatia de mais de 104.000 pessoas de acordo com seu país de origem (https://bit.ly/2S4nesJ).

É importante, neste ponto, trazer algumas questões:

1. Afinal, o que é a tal empatia?

2. Como o estudo foi feito e como nos comparamos com outros países?

1. A empatia é descrita, de maneira geral, como a capacidade de se colocar no lugar do outro, buscando agir ou pensar da mesma maneira que determinada pessoa em uma dada situação. Muitas vezes a palavra é usada de forma equivocada como sinônimo de ‘simpatia’. Ouvimos muito a frase ‘sinto empatia por fulano’ no sentido de se referir a gostar de alguém. Na verdade, isso não tem nada a ver com empatia.

Vou procurar ater-me ao que diz o grande desenvolvedor de uma técnica incrível capaz de potencializar nossa capacidade de empatia: a Comunicação Não-Violenta e, por isso mesmo, também conhecida como Comunicação Empática. O mestre a quem me refiro é o psicólogo Marshall Rosenberg que criou a técnica de Comunicação Não-Violenta (CNV) nos anos 1960.

Ele descreve a empatia como conexão.

Sim, conexão! A verdadeira conexão com o outro acontece quando não o julgamos. Numa situação de diálogo seria descrita como presença, disponibilidade para ouvir a pessoa que está conosco. A empatia só pode ocorrer quando conseguimos nos livrar de todas as ideias e julgamentos.

Quando falamos de empatia de forma geral, sem nos referirmos a uma situação de conversa ou presença física, significa saber da história de alguém ou sabermos de sua opinião e aceitarmos sua forma de lidar com determinada questão. Isso não significa concordar, mas procurar conectar-se com as necessidades daquela pessoa em sustentar determinado pensamento.

O resultado da pesquisa, a meu ver, somente confirma algo que é bastante perceptível nos últimos anos. O que mais se vê na nossa sociedade, infelizmente, são embates, conflitos e situações de agressividade – verbais ou não.

Recentemente, soube de uma instrutora física que estava, de bicicleta, a caminho do meu condomínio quando foi surpreendida por um carro que a imprensou contra o meio-fio, fazendo-a cair. O motorista, logo depois de ver sua queda, acelerou e fugiu.

Vejo, com frequência, motoristas passarem em poças em dias chuvosos, bem próximos a pedestres, sem o menor cuidado, parecendo mesmo terem a intenção de sujá-los com a água da rua. Ou, no trânsito, após não haver cedido a passagem a um carro que estava atrás de mim a curta distância, o motorista decidir – logo após ter mudado de faixa -, voltar para onde eu estava; agora à minha frente, para repentinamente reduzir a velocidade e me assustar. Fico em pânico na hora.

Esses são todos exemplos no trânsito, mas são só reflexo da violência com a qual nos tratamos todos os dias aqui no Brasil.

No trabalho, a falta de diálogo e de espaço para nos comunicarmos com nossos colegas – e ainda mais com nossos chefes – é algo sufocante. Poucos são os exemplos de empresas que permitem a comunicação dos funcionários a respeito de algum problema que estejam passando e repercutindo em sua produtividade. Isso sem falar em situações em que nos sentimos humilhados como em casos mal conduzidos de demissão por total falta de empatia ao profissional que está deixando o cargo.

Nas redes sociais não há mais espaço para amizade nem respeito quando não se concorda mais em um determinado assunto. É ofensivo pensar diferente. A polarização política também ilustra como somos incapazes de tolerar opiniões diferentes. E isso está refletido na pesquisa.

2. Voltando à pergunta sobre como foi feito o estudo, os pesquisadores de Michigan submeteram um questionário online para mais de 104 mil pessoas de diversos países. O questionário contava com perguntas que tentavam medir a compaixão e a tendência dos voluntários a imaginar o ponto de vista de outros em situações hipotéticas. O Equador ficou em primeiro lugar, os EUA em sétimo, e a Lituânia em último.

Como o estudo foi produzido por uma universidade americana, eles procuraram entender, com preocupação, por que os Estados Unidos ficaram em sétimo – imaginem o quanto nós deveríamos nos preocupar com o nosso 51º. lugar.

William Chopik, autor do estudo, diz que os americanos estão mais individualistas hoje do que no passado. Outras pesquisas em sua área demonstram essa tendência e a explicação para isso seria, entre outros fatores, a explosão das mídias sociais; aumento da violência e do bullying; pressão maior quanto ao sucesso profissional etc.

A pesquisa levanta, ainda, outros dados interessantes e que confirmam nossa percepção: as mulheres tendem a ser mais empáticas assim como pessoas de mais idade.

O mais importante após nos depararmos com este resultado é refletirmos sobre como estamos lidando com a opinião alheia e como reagimos com outros indivíduos, independentemente de onde estejamos. Seja no trabalho, na rua ou em casa. Estamos fazendo o nosso melhor no sentido de nos preocuparmos em ouvir o outro, ajudá-lo, aceitar sua opinião?

Ao que tudo indica temos um longo caminho a percorrer…

Luciana Goloni é palestrante e consultora em Comunicação Empática. Professora do IDCE Escola de Negócios, é pós-graduada em Negócios Internacionais pela UERJ.