NOVA COLUNISTA: Juliana Fernandes Gontijo - Pequenas ações podem gerar economia de energia.

Você se lembra do “apagão” de energia em 2001?

Há exatamente 20 anos, o Brasil passava por uma difícil crise de energia devido à falta de chuvas e mau planejamento para a transmissão de energia no país.

Acredito que muitos jovens nem tenham ideia do que vem a ser o termo “apagão” do início dos anos 2000.

A característica de países tropicais é inverno seco com escassez de chuvas. Os níveis dos reservatórios caem bastante e a produção de energia nas hidrelétricas encarece. Outro problema é que, infelizmente, o Brasil não investe o bastante em energia solar ou eólica que têm menor custo.

Bem… em 2001, o governo Fernando Henrique Cardoso criou um programa de blecautes no país para a redução no consumo de energia, daí o nome “apagão”. Entre maio daquele ano e fevereiro de 2002, a população de 16 estados das regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste, além do Distrito Federal, foi obrigada a “apagar as luzes”… O objetivo era evitar um colapso no sistema elétrico brasileiro.

Consumidores residenciais e industriais precisaram fazer corte de energia sob “pena” de um aumento de até 200% na conta. Era preciso reduzir compulsoriamente 20% no consumo. A população teve que trocar lâmpadas e equipamentos antigos por outros mais econômicos e, assim, evitar desperdício de energia. A preocupação maior era manter os serviços essenciais, tais como saúde e segurança pública. Muitas cidades no país sofreram cortes drásticos de energia. Lembro-me que as ruas e avenidas em Belo Horizonte ficaram mais escuras… Luzes de outdoors e chafarizes de praças também foram desligados. O governo ainda criou campanhas que estimulavam a economia de energia. Por trás disso tudo havia um viés político, o que não é assunto desse texto.

Acredito que pudemos tirar uma lição daquela época, como consciência de economia de energia e sustentabilidade de modo geral.

Em minha casa, nós já éramos preocupados com os gastos de energia. Meus pais sempre cobraram menos demora no banho, no gasto de água para lavar a garagem ou o quintal. Como somos de Minas Gerais, meu pai dizia: “Aqui não tem sócio da Cemig” ou “… não tem sócio da Copasa”. Ele sempre teve razão. Lembro-me que, com o “apagão”, íamos dormir mais cedo, assistíamos menos TV, os banhos ficavam fora do horário de pico do consumo (entre 18 e 20 horas). No entanto, antes daquela época, se demorássemos muito debaixo do chuveiro e, com o primeiro aviso, não desligávamos, ele simplesmente “virava a chave” do disjuntor. Tínhamos que acabar de tomar banho frio e não adiantava reclamar – uma educação que vem de berço, de pais para filhos, ou seja, de meus avós para meus pais: uma questão de valores, de consciência coletiva.

Aposentamos o freezer, a máquina de lavar louças e a de secar roupas. Um tempo depois, doamos os equipamentos. Diminuímos o uso da máquina de lavar roupas: em vez de esfregar, ela passou somente a enxaguar e torcer roupas de uso diário; a esfregação era no “braço, com a escova”. A lavagem total ficou apenas para roupas de cama e banho (as mais pesadas). Os aparelhos elétricos eram desligados na tomada se não estivéssemos utilizando no momento. Assim, reduzimos o nosso consumo em mais de 30% e o valor das contas de energia baixou consideravelmente. Como já tínhamos essa preocupação com a economia de energia, não sentimos como uma mudança radical de postura, que ainda continua a mesma.

E agora, depois de 20 anos, o Brasil está passando por um período de maior escassez de chuvas. Alguns especialistas dizem que é a maior em 91 anos. E a população não aprendeu com isso? Acredito que ninguém gostaria de conviver com novo “apagão” junto com a Covid-19 assombrando nosso país. Em entrevista (em 21/06/2021) ao jornal Metrópoles, o consultor e professor Adilson de Oliveira, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que participou da reforma do setor elétrico no Ministério de Minas e Energia durante o segundo mandato de FHC, disse que o Brasil provavelmente terá racionamento em 2022. Segundo ele, “é só questão de tempo”.

É preciso, então, tomar consciência de que pequenas ações em nossas casas podem contribuir para a redução de energia e de água.

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É completamente possível perder um “tempinho” usando a vassoura no quintal ou na frente da casa para juntar o lixo, não “varrendo” com a mangueira d’água. Consequentemente, o gasto de água diminui. Ou reutilize a água da máquina de lavar. Além disso, juntar o lixo com a vassoura impede que desça sarjeta abaixo e possa entupir a rede de esgotos.

Também não custa nada ao sair de um cômodo apagar a luz, evitar acender luzes durante o dia, a não ser em caso de extrema necessidade. Abra as cortinas ou janelas e a luz do Sol vai iluminar o ambiente.

Tire do stand by os aparelhos como fornos de microondas, TV e máquinas de lavar que não são usados o dia todo. Além de fazer economia de energia, você evita que um raio possa danificar seus aparelhos, caso ocorra uma “tromba d’água” de repente.

Se cada um fizer a sua parte, não precisaremos viver outro período de “apagão”, uma vez que não é possível “lutar” contra a natureza de um país tropical com inverno muito seco, não é mesmo? Pense nisso.

Imagem: Peter H, por Pixabay.

Juliana Fernandes Gontijo é jornalista por formação e atriz. Apaixonada pela língua portuguesa e cultura de maneira geral, tem bastante preocupação com sustentabilidade e o destino do lixo produzido no planeta.