PENSANDO ALTO - O dia internacional da mulher e a comunicação.

Chegamos no mês do Dia Internacional da Mulher, e esse parece ser um tema atrativo sobre o qual as marcas poderiam falar. Dando um breve contexto histórico sobre a data, ela surgiu de um movimento feminista no começo do século passado, quando mulheres operárias começaram a lutar por equidade e melhores condições de trabalho. O marco foi um incêndio que aconteceu em 1911 em uma indústria têxtil de Nova York, o qual matou 131 mulheres, trazendo à tona as péssimas condições que elas enfrentavam no tempo da Revolução Industrial. Não é uma data comercial, pois. É um marco de resistência.

A construção de marca trabalhada em cima desse dia parece ser uma boa ideia: um assunto recorrente, que muito provavelmente entrará em Trending Topics, uma linda causa para envolver e relacionar a marca e a não necessidade de um grande investimento.

Porém, existe uma coisa muito importante que devemos pensar antes de relacionar nossa marca a qualquer causa, e ela se chama ‘lugar de fala’. É necessário um trabalho estratégico de back ground para analisar se a marca tem propriedade e está inserida nesse território para tocar nesse assunto. E, no caso, é muito mais problemático do que não saber do que se está falando ou ter uma comunicação rasa e mal amarrada. Além disso, pode soar oportunista e parecer que a marca está se apropriando de um assunto apenas para ser bem vista… pois nos outros dias do ano não se importa verdadeiramente com a causa feminina.

Essa é a importância da marca com propósito. Ela age com intenção, com plenitude, com estratégia. Todas as suas ações visam esse mesmo objetivo. O propósito é a motivação da marca fazer o que faz. Vai além de vender serviços ou produtos, é um argumento de melhoria da vida de seu consumidor. E o Dia Internacional da Mulher é digno de um propósito – um post sem aprofundamento é insuficiente. Além de ser desrespeitoso, ainda é sem sentido. Se sua marca trabalha no território do entretenimento, por exemplo, você faria um post sobre saúde? Então se não aborda a resistência feminina, por que falar disso?

E como se não bastasse, existe uma outra situação gravíssima no meio publicitário, que se agrava ainda mais nesse mês em que pipocam milhões de posts sem embasamento, que é o baixíssimo número de mulheres em cargos de liderança nas agências de publicidade. Na área criativa, apenas 25% dos cargos são ocupados por mulheres. Então, além dessa epidemia de posts sem propósito, eles ainda são, em sua maioria, criados e produzidos por homens.

Os consumidores estão cada vez mais, e com razão, cobrando de nós comunicadores a verdade e a essência. Precisamos criar conexões reais, que façam sentido, que existam verdadeiramente. Portanto, se sua marca não se conecta realmente com mulheres, não as beneficia exclusivamente de alguma maneira, não suporta projetos de empoderamento ou defesa da mulher, não deseje ‘feliz Dia da Mulher’. Não seja uma instituição alheia a essa causa e que quer apenas se promover.

Mas, se você acha que isso pode se tornar um propósito da sua marca, comece a construir isso para que, aí sim, no próximo ano, sua marca não apenas deseje um ‘feliz Dia da Mulher’, mas lute inclusivamente por esse objetivo.

Giulia Romanelli é publicitária de formação. Leitora e escritora de essência, é atriz amadora, fascinada por reflexões humanas, Filosofia, e pelas relações sociais.