PAPO DE TERÇA - Educar é inovar: novos meios de ensino em tempos pandemia. Por Nathália Corrêa.

O setor da educação infantil, assim como todos os outros, foi pego de surpresa com a crise de coronavírus e, de repente, teve que adaptar toda a sua estrutura física de ensino para a educação à distância, através de plataformas digitais. Mas, será que professores, pais de alunos e os próprios estudantes já tinham acesso a essa tecnologia?

Hoje em dia, todo mundo tem um smartphone. Essa afirmação é comum escutar por aí, não é mesmo? Afinal, ninguém vive sem um celular, sem se comunicar por meio do WhatsApp ou atualizar frequentemente alguma rede social. Mas, a realidade é um pouco diferente.

De acordo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – Tecnologia da Informação e Comunicação (Pnad Contínua TIC), divulgada pelo IBGE e referente ao ano de 2018, um a cada quatro brasileiros não tem acesso à internet, o que representa cerca de 46 milhões de pessoas sem acesso à rede.

Assim, vem a segunda pergunta: como essas pessoas terão acesso à educação pelas plataformas digitais?

Além disso, outro fator importante é o conhecimento para navegar na internet. A Pnad Contínua TIC também revelou que 41,6% das pessoas que não têm acesso à rede (quase metade), disseram que o motivo é não saberem usar. Ainda tem o fator econômico, pois para 11,8% delas, o serviço de acesso à internet é caro e para 5,7% – o equipamento necessário para o acesso, como celular, laptop e tablet, também é caro.

A rede de ensino público já enfrenta algumas dificuldades, e agora, o corpo docente está tendo que aprender a lidar com mais um desafio: reinventar a educação e expandir o ensino para além dos muros da escola. É o momento de, mais do que nunca, gestores, professores e pais se unirem para que essa crise de 2020 não prejudique o calendário escolar dos alunos.

Veja algumas ações que podem ajudar nos processos de gestão e comunicação:

1. Entender a realidade dos alunos

Mesmo à distância, o gestor escolar deve estar ainda mais presente na vida dos alunos. Por meio de um telefonema para os pais/responsáveis é possível realizar uma pequena pesquisa sobre a possibilidade da família ao acesso à internet.

2. Manual para a educação em casa

Nem todos os pais/responsáveis de alunos têm conhecimento ou habilidade para ajudar os filhos a desenvolverem as atividades escolares. Portanto, criar pequenas dicas como rotina de atividades, métodos de ensino, anotação de dúvidas e persistência podem ser úteis.

3. Inovação nas atividades

Além do ensino convencional, é preciso criar conteúdos que geram mais entretenimento para as crianças, conscientização e responsabilidade social durante a pandemia. Não adianta esconder, pois as crianças também estão sentindo essa mudança de rotina, assim como todos nós, e passar mais tempo em casa, sem poderem sair para brincar é entediante para qualquer uma. Dessa maneira, recomendar vídeos, filmes ou canais infantis é uma maneira de inovar na educação digital. Para aquelas que não têm acesso, jogos educativos são alternativas para aprender se divertindo.

4. Canal único de comunicação entre escola, alunos e pais

Para evitar ruídos ou o famoso ‘telefone sem fio’ é necessário centralizar a comunicação. Estabeleça pequenas lideranças entre os professores, assim, cada um poderá ficar responsável por uma turma. Crie rotina para envio e recibo das atividades, horários específicos para esclarecimento de dúvidas (é recomendado seguir os horários e dias letivos) oriente os professores para esclarecerem aos pais sobre o novo funcionamento da escola, e, claro, escolha o canal adequado. Esse canal irá depender da realidade de cada local. Algumas opções são grupos em redes sociais de massa, como WhatsApp e Facebook. Mas, havendo o problema de acesso à internet, não hesite em recorrer a boa e velha ligação telefônica.

5. Plataforma para atividades virtuais VERSUS atividades impressas

No sistema de educação à distância, as plataformas de ensino virtuais são ferramentas de grande utilidade e fácil acesso. Esse seria o formato ideal para as escolas. Algumas plataformas educacionais possuem guias para professores e alunos, além de reunirem as atividades em um único ambiente, facilitando o trabalho do corpo docente. Mas, essa alternativa pode ser uma dificuldade para alguns pais que não possuem internet em casa ou não sabem usar, dificultando ainda mais o acesso. Dessa maneira, outra opção é tomar os devidos cuidados e recorrer ou abrir exceção para as atividades impressas com o objetivo de que nenhum aluno fique sem estudar. Estabeleça dias fixos para entrega e recolhimento dos trabalhos para a correção e use um motoboy para ajudar nesse processo.

6. Reuniões de vídeo para feedback do corpo docente

Assim como acontecia na rotina presencial, reúna com a sua equipe de professores para alinhar estratégias e saber a opinião deles e dos pais de alunos sobre o novo formato adotado pela escola. Afinal, o importante é funcionar, não é mesmo? Alguns aplicativos com versões gratuitas podem ser utilizados para essas reuniões como Zoom, Google Meet, Skype, entre outros.

7. Divulgação dos trabalhos da escola

Algumas escolas possuem site, blog, página no Facebook, Instagram, LinkedIn ou outros canais de comunicação. Nesse momento, é hora de fortalecer ainda mais os ambientes digitais, mostrando que a escola está ativa, se readaptando, criando novos caminhos para a educação e fazendo com que todos os alunos continuem tendo acesso ao conhecimento. É interessante mostrar as atividades escolares através dessas redes.

As escolas têm papel fundamental na formação de crianças e adolescentes e nenhuma atividade virtual se equipara à experiência da sala de aula. Mas, além de ajudar diretores e professores a criarem seus planos de contingência, é um impulso para que cada educador possa explorar seus conhecimentos tecnológicos, criar atividades dinâmicas, pensar fora da caixa e trazer à tona a essência da sua profissão: formar e transformar pessoas através do conhecimento.

Nesse momento, a união entre corpo docente e pais de alunos forma uma rede de comunicação que pode ajudar a construir uma rede ainda maior de empatia e fazer com que o ensino alcance a todos.

Imagem: Tina Floersch por Unsplash.

Nathália Corrêa é bacharel em Comunicação Social pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e tem MBA em Marketing Digital. Atua na gerência de marketing e mídias sociais.