OBSERVE-SE - Trago comigo. Por Mariana Vieira.

Carrego comigo as canções do meu tempo.

Do passado remoto,

Infância esquecida,

Onde os sons eram a vida

Que pulsava na minha morada.

Os sinos da igreja,

Prenúncio de risos ou prantos

Conforme a morte ou a vida que ocorria.

O sinal da escola,

Os passos para fora,

A colher nos dentes,

A travessura que cessa com o estalo na parede.

Tenho comigo as músicas do meu tempo.

Os gritos contrários acerca do nada.

O zumbido do vento que geme as preces

No ouvido de quem corre (sofreguidão).

As patas em decadência que afundam o solo marcado,

As sirenes que te delatam

E o canto dos pássaros

Que anunciam a sua liberdade.

Trago no peito os sons do meu tempo.

O tempo do fim,

Que está no meio.

A flor do silêncio que brota nos lábios

E que com um sopro breve, espalha a semente.

Os sons da minha pausa

São a música do meu agora.

Mariana Vieira é escritora, poeta, artista plástica e advogada. Formou-se em Direito pela Universidade Federal Fluminense (UFF), atuando notadamente na defesa dos Direitos da Mulher. É autora do livro ‘Sinto muito, eu te amo – a poética dos afetos’, pela Autografia Editora.