O que parece, e o que é. Por Carlos Brickmann.

Aécio desistiu de disputar a reeleição ao Senado, e tenta a Câmara Federal. Alegação: ‘A gravidade da situação de nosso Estado exigirá uma bancada forte e unida na defesa dos interesses de Minas’. Verdade: Aécio temia ser derrotado. E, sem foro, é com Moro. Aécio prefere o STF.

Alckmin escolheu uma grande vice: a senadora gaúcha Ana Amélia. Alegação: Alckmin disse que ela sempre foi sua favorita. Verdade: Alckmin tentou Josué Alencar, que pagaria sua própria campanha; e Álvaro Dias, para livrar-se do oponente que disputa seus eleitores. Na falta do dinheiro de um e dos votos do outro, optou pela melhor candidata.

Os verdes se aliaram a Marina, indicando Eduardo Jorge para vice. Alegação: ‘A aliança reforça o trabalho nos Estados’, disse o presidente do PV. Verdade: ou aceitava a vice de Marina ou ficava sem nada.

O PSC, do Pastor Everaldo, retirou a candidatura de Paulo Rabello de Castro à Presidência e o indicou para vice de Álvaro Dias, do Podemos. Alegação: ‘A aliança…’, diz Paulo Rabello, ‘… é o primeiro passo para acabar com a picaretagem na política’. Verdade: Rabello corria o risco de ter menos votos que Meirelles, pois de Meirelles se sabe ao menos que é candidato e foi ministro de Temer. Álvaro Dias empacou nas pesquisas e não tinha um vice popular. Vai portanto de Rabello, que não é popular mas tem boa reputação e ficha limpa. Antes ao lado do que concorrendo.

Assim é…

A aliança de Álvaro Dias com Rabello foi rica em boas frases. O Pastor Everaldo, presidente do PSC de Rabello, disse que a principal negociação foi programática. ‘O senador aceitou incorporar à sua proposta de governo nosso Plano de 20 Metas’. Claro! E o fará assim que descobrir que metas são essas. Renata Abreu, presidente do Podemos de Álvaro Dias, festejou a aliança: ‘Além de PSC e Podemos, o PRP estará na aliança’. Álvaro Dias disse que busca o apoio do PROS. E ainda falou com ar de alegria!

… se lhe parece

E Alckmin? Na Globonews, elogiou a história do PTB, que o apoia. É uma história rica, riquíssima: Roberto Jefferson, seu presidente, cumpriu pena por ser condenado no Mensalão, e é investigado pela Polícia Federal no caso da venda de registros de sindicatos no Ministério do Trabalho.

Falsa força

Os candidatos medem forças pelo número de simpatizantes no Facebook e no Twitter. Mas qual é o número? Com a ferramenta Twitter Audit, o colunista Cláudio Humberto (www.diariodopoder.com.br) apurou quantos simpatizantes são falsos. No caso de Lula, 20%. De Dilma, 30% – ou seja, de 6,02 milhões de seguidores, 1,8 milhão são fake. Bolsonaro tem, entre seus seguidores, 24% inventados (pior: segundo O Globo, um secretário parlamentar de Bolsonaro, cujo salário é pago pela Câmara, é figura-chave no esquema. Traduzindo, o caro leitor paga para o candidato ter seguidores fake). E o campeão absoluto em seguidores falsos é Alckmin, com 36%.

Pois é: contar seguidores no Facebook e no Twitter como se fossem eleitores é a mesma coisa que ficar rico no Banco Imobiliário.

Falsos puros

Lula jogou pesado e, de seu escritório na carceragem da Polícia Federal em Curitiba, torpedeou a candidatura de Ciro Gomes (que foi seu ministro), única possibilidade real de união dos partidos de esquerda. A união de esquerda que podia admitir era em torno de seu nome – embora inelegível.

O PT mantém o discurso da pureza ideológica. Mas se aliou àqueles a quem chamava de ‘golpistas’ para as disputas estaduais. Em Alagoas, fechou com Renan Calheiros; em Pernambuco, fez o possível para rifar Marília Arraes e se aliar ao governador Paulo Câmara, do PSB (mas Marília venceu a convenção – e agora?). No Piauí, a senadora Regina Souza, do PT, foi queimada; o partido apoia Ciro Nogueira, do PP, um dos líderes do Centrão (que, nacionalmente, está com Alckmin). E no Ceará o PT apoia Eunício – que não apenas chamavam de ‘golpista’ mas atacavam por ser amigo do presidente Michel Temer. Em resumo, vale tudo, exceto aquilo que possa prejudicar a suprema posição de Lula.

Atenção às mulheres

Vale a pena prestar atenção nas duas gaúchas envolvidas na disputa pela Presidência: Manuela d’Ávila, candidata do PCdoB à Presidência, e Ana Amélia, do PP, vice de Alckmin, são adversárias, pensam diferente, mas pensam. Manuela d’Ávila tinha sido lançada pelo PCdoB para ocupar o espaço até que o partido decidisse o que fazer, mas ocupou-o tão bem que, a menos que haja uma união das esquerdas, é candidata até o fim. Ana Amélia é competente, ficha limpa, corretíssima (este colunista, que trabalhou com ela na Rede Bandeirantes de Televisão, é seu admirador). E há anos é colocada pelos jornalistas entre os melhores senadores. Observe.