O poder do instantâneo. Por Angela Piotto.

Encontram-se diversas teorias para trazer para a realidade tudo que almejamos. Diversas fórmulas mágicas para conseguir o corpo perfeito, o companheiro perfeito, a profissão dos sonhos, o salário satisfatório.

Observam-se peças de propaganda sem fim com texto como “emagreça 9 quilos em 1 semana”, “ouça essa sintonia, mude seu padrão e atraia riqueza em 3 dias”, e por aí segue-se uma sequência quase que incontável de produtos ou serviços milagrosos.

Assim, diversas vezes, por anos a fio, milhares de pessoas confiam nessas teorias sem ter o êxito almejado. São reiterados fracassos nas inúmeras tentativas de milagres divulgadas.

Dessa forma cria-se um efeito rebote, no qual a frustração do inatingível reforça a insegurança, a baixa autoestima e a incapacidade de ter sucesso, mantendo o indivíduo numa vibração tão pessimista de si mesmo que o coloca mais uma vez a buscar, outra e outra teoria, formando um ciclo fechado de dependência emocional.

Esses dias observei uma publicação que indagava “porque os relacionamentos antigamente eram mais duradouros que hoje em dia?”. Dentre tantas respostas possíveis, algumas sobressaíram:

– Antigamente, era ensinada a paciência para se construir algo, seja no campo profissional ou emocional. Primeiro cultivava-se o objetivo, criando estrutura e parâmetros para pô-lo em prática. Assim, pouco a pouco, erguia-se um alicerce de base sólida para caminhar-se em busca dos objetivos. Era um trabalho árduo.

– Com o passar do tempo e a mudança das gerações, fermentou a ideia de que trabalho árduo seria ruim, e as gerações sequenciais começaram a poupar os filhos de tal sofrimento. Em contrapartida, sem “sofrimento”, sem o processo de plantar para poder colher os frutos depois, as novas gerações acreditaram num processo em que tudo vem fácil, tudo acontece como um “milagre instantâneo”.

Aí, o indivíduo, quando adulto, se depara com uma realidade mais dura – que desconhece -, com emoções idem desconhecidas e sem saber como lidar com frustrações, afunda-se em dissabores e autossabotagem.

O despreparo faz com que muitos não entendam que não há fórmula perfeita que os fará eternamente felizes. Não compreendem que ser feliz é escolha diária, plantar, esperar e colher, por mais que, às vezes, seja necessário replantar, e esperar ainda um pouco mais.

Infelizmente, hoje, as redes sociais influenciam de maneira significativa, e por vezes negativa, a vida das pessoas. Tudo o que é exposto baseia-se em sucesso, viagens deslumbrantes, casais perfeitos, corpos perfeitos. Uma imensa vitrine de um mundo de faz-de-conta, lindo e tão real quanto um conto de fadas.

Porém, tal mundo parece ser real para quem foi criado influenciado pela ideia de que tudo pode ser perfeito… e rápido. Assim, inicia-se o processo das procuras milagrosas, do “eu quero p’ra ontem”, tudo voltado para o eu. Então, temos adultos infantilizados emocionalmente, tipo “se não for agora, não quero”, “se não é como eu imaginei não serve”, e descartam-se amizades, relações e profissões. São adultos cheios de frustrações, com medo de tudo e todos, escondendo-se atrás das máscaras de reis mandões. Infelizmente tão vazios que não apaziguam seu interior, não conseguem centralidade, autoconhecimento e paz.

O “poder do agora” é outro e necessita ser exercitado de dentro para fora: respeitar-se a si mesmo e ao próximo agora, autoconhecer-se agora, desenvolver empatia agora, amar a si e ao próximo – fraternalmente -, agora. Para que, assim, se desenvolva o campo fértil necessário para alcançar a tão almejada e idealizada vida feliz.

Angela Piotto é graduada em Direito, pós-graduada em Direito do Trabalho, Direito de Família e em Psicologia Jurídica e Avaliação Psicológica. Atua como Terapeuta Integrativa.