O OUTRO LADO DAS MARCAS - Tudo indica que consciência será a chave da sustentabilidade do planeta.

O momento atual parece ser o roteiro um filme de ficção científica tolo, daqueles que um vírus letal se espalha ao redor do planeta. Contudo, isso não é, infelizmente, uma fantasia, não é uma produção de Hollywood, Bollywood… É real. E o motivo pelo qual deve-se evitar sair não é somente o de autopreservação, mas para proteger o outro. E tudo porque uma única pessoa tem o poder de colocar em risco a vida de outras tantas.

Seguindo a mesma linha de raciocínio, é preciso aprender com o momento e passar a ter atitudes pensando no bem-estar coletivo. Talvez esse seja o grande legado dessa quarentena: um choque de realidade. Outros tantos revezes têm acontecido por tantos anos, mas o fato de o mundo estar em quarentena está obrigando as pessoas a refletirem sobre seus atos, como o simples fato de comprar roupas.

Não é segredo que muitas das roupas que são consumidas no Brasil foram feitas por trabalhadores em péssimas condições de trabalho, como os de Bangladesh. Convém refrescar a memória e relembrar os dois trágicos desabamentos de edifícios em Bangladesh, o primeiro em 2005, e o segundo, de maiores proporções, em 2013. Tais fatos, somados a muitos outros que poderiam ser aqui enumerados, contribuíram para que uma parcela da humanidade percebesse que podia romper este ciclo vicioso de consumo inconsciente e trabalho servil. Efetivamente, muitas pessoas já passaram a investigar sobre a idoneidade das empresas antes de efetuarem suas compras. Talvez, a lição da quarentena seja sensibilizar a humanidade como um todo para o poder da atitude de cada um.

E esse despertar vai além das causas sociais. O vírus chegou como um tsunami carregando as pessoas para suas casas. Surpreendentemente, a natureza está dando um show para ser visto da janela: mares e rios mais limpos, o ar mais puro. Dessa feita, o desabamento de Bangladesh e a tartaruga morta na praia, assuntos aparentemente díspares, hoje estão nitidamente conectados, uma vez que, como um ciclo, a produção e o consumo são fatores relevantes na poluição de mares e rios.

Cumpre observar que as empresas também não vão sair ilesas, principalmente no que tange às suas responsabilidades socioeconômicas e ambientais. Estima-se que o indivíduo pós-pandemia, percebendo a potência de seus atos, vai ser mais seletivo em relação às suas escolhas, empregando seu dinheiro em pessoas jurídicas em que possa confiar. Haja vista os movimentos que estão acontecendo como o ‘Educar para Revolucionar’ feito pela organização sem fins lucrativos ‘Fashion Revolution’, em parceria com o ‘Design Council’. Dentre as ações feitas, vale citar o treinamento dado a professores para despertar em seus alunos um pensamento crítico acerca do consumo, incentivando-os a investigar sobre a transparência das empresas a partir dos produtos que estão nos armários de suas casas. Tudo indica que esteja chegando aí uma nova geração que vai cobrar por uma sociedade cada vez mais consciente e exigente.

A fotografia da montagem é de uma tartaruga com canudos no nariz e foi extraída do site do Projeto Tamar (http://tamar.org.br/interna.php?cod=316).

Gisela Monteiro é mestre e doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Design da ESDI/UERJ, na linha de pesquisa ‘História do Design Brasileiro’. É também graduada pela mesma instituição com habilitação em ‘Projeto de Produto e Programação Visual’. Possui formação técnica em Design Gráfico pelo Senai Artes Gráficas do Rio de Janeiro e experiência na prática do Design, tendo sido responsável por diversos projetos para empresas. Atua como docente em diversas instituições do Rio de Janeiro.