O OUTRO LADO DAS MARCAS - Qual a responsabilidade das marcas na produção do lixo?

Já tem um tempo que venho amadurecendo a ideia de propor nesta coluna o tema do lixo e, hoje, tomei a decisão de que este pode ser um bom canal para propor uma reflexão sobre a questão. Gostaria de fazer alguns textos sobre a responsabilidade das marcas com a produção de lixo. E pensei em trazer essa questão específica sobre o assunto, uma questão real, como o lixo nas praias do Rio de Janeiro. Eu tenho feito fotos do lixo que cato nas minhas caminhadas e me impressiona ver esse outro lado das marcas…

Tudo aconteceu porque tenho o bom hábito de caminhar pelas manhãs na praia de Copacabana, cartão postal do Brasil. Só que, em vez de ser um passeio aprazível, é um motivo de revolta.

Guimbas de cigarro a perder a conta, canudinhos, tampas de lata de refrigerantes, lacres usados para montar estandes nos grandes eventos que acontecem na praia… sem esquecer, é claro, das ‘rolhas de fim de ano’ que ficam soterradas até que um vento as revelem.

Daí vem a pergunta: – De quem é a responsabilidade pela coleta do lixo? Dos frequentadores que costumam comer, beber, fumar e enterrar os restos – achando que o lixo, assim, simplesmente desaparece? Das barracas que se esmeram em dar um bom atendimento, mas que não ligam para a sujeira que as pessoas fazem e não varrem a praia? Dos lixeiros da Comlurb? Ou das empresas que anunciam seus refrigerantes, sucos e picolés? Ou, quem sabe, dos fabricantes daquelas matérias-primas – alumínio, papelão, plásticos?

E por falar em matérias-primas, quando as pessoas descobrem algum valor nelas, recolhem-nas antes mesmo da Comlurb, como é o caso das latas de alumínio, que hoje já não fazem mais parte deste cenário catastrófico. No entanto, é comum que os catadores recolham as latas e joguem os – mortíferos (aos peixes) – canudos nas areias…

Enfim, a decisão de começar a escrever sobre este assunto em um espaço que discute a identidade visual das marcas foi tomada justamente por conta dos canudos. Por sinal, hoje, o mar estava devolvendo todos os ‘presentes’ que lhe legamos. A água estava com uma língua cinza e havia uma série de canudos espetados na beira da água. Ao pisar na areia molhada, um saco plástico de supermercado vem ao encontro dos meus pés como uma súplica do mar para retirá-lo. Então, em apenas um quilômetro de caminhada, enchi o mesmo… ao observar-me, uma família de turistas argentinos começou a catar também e, simpaticamente, entregou-me, em menos de dois minutos, uma boa quantidade de lixo.

Como uma andorinha só não faz verão, então, vamos acordar todos para esta questão local, no entanto impactada pela produção industrial de massa que parece não se responsabilizar pelos resíduos do que produz.

Imagem: Gisela Monteiro.

Gisela Monteiro é mestre e doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Design da ESDI/UERJ, na linha de pesquisa ‘História do Design Brasileiro’. É também graduada pela mesma instituição com habilitação em ‘Projeto de Produto e Programação Visual’. Possui formação técnica em Design Gráfico pelo Senai Artes Gráficas do Rio de Janeiro e experiência na prática do Design, tendo sido responsável por diversos projetos para empresas. Atua como docente em diversas instituições do Rio de Janeiro.