O dilema ético da imparcialidade. Por Flávia Ferreira.

‘No jornalismo, a ética ajuda a lembrar o profissional de que há mais matizes entre o fato e o relato’. (CHRISTOFOLETTI, 2008).

Quando entramos na faculdade de jornalismo a primeira coisa que aprendemos é o ser imparcial, ouvir sempre o maior número possível de pessoas e todos os lados envolvidos. Uma ideologia que ficou apenas nas aulas de ética profissional e nos livros de teoria, pois é notável que não é isso que acontece no dia a dia do trabalho, principalmente se falamos sobre o universo das celebridades e da política.

Sempre acreditei que o papel do jornalismo era expor os fatos e não tomar partido, porque para mim isso seria a função da publicidade e das mídias institucionais, mas no mundo tão dominado pelo dinheiro, pela ganância, pelo ego e narcisismo, a minha crença parece se afastar a cada dia da realidade.

Existe uma mudança significativa nas comunicações, a qual afeta a maneira como o jornalismo e o entretenimento são fabricados e também o modo como são consumidos. Esse movimento levanta uma rediscussão nas questões éticas nas comunicações e no jornalismo, uma vez que levantam novas temáticas. Exige também uma compreensão mais extensa desse fenômeno, até mesmo para entender como os próprios meios de comunicação vêem as questões ética e moral da profissão.

Por mais que as redes sociais tenham ganhado certo poder no processo de estimo de comportamentos, não podemos fechar os olhos para a importância da mídia tradicional no impulsionamento de nomes e marcas.

Quando estudamos Ética e Moral, vemos que o discurso jornalístico obedece, ou deveria obedecer, a pertinência, a sinceridade, a informatividade e a exaustividade. Rogério Christofoletti afirmou no livro ‘Ética no Jornalismo’ que a mídia tem lugar fundamental na vida do ser humano, pois que ajuda a moldar o imaginário, estabelecer prioridades, decidir e descartar opções.

‘Essa onipresença não comporta apenas um poder avassalador de formação de opinião, de registro da história recente ou de definição de relevância social. Todo esse poder traz preocupações de caráter ético’, escreveu. No jornalismo, a ética é mais que um rótulo. No exercício diário da cobertura jornalística de fatos de interesse da sociedade, a conduta ética se confunde com a qualidade do trabalho realizado e a produção da notícia chega a um patamar que beira a manipulação em um jogo no qual as notícias são vistas como eventos publicitários e mercadológicos.

Ética e antiética caminham juntas no jornalismo, pois não há jornalismo sem uma inquietação ética, nem mesmo quando quem produz nega tal preocupação, uma vez que, ao negá-la, reconhece a sua existência. A atitude antiética reforça a realidade do fazer moral, pois é nesse momento que pode-se conferir ou retirar de determinado veiculo ou profissional a credibilidade.

Flávia Ferreira é jornalista pós-graduada em Gestão Estratégica da Comunicação. Com mais de 10 anos de atuação profissional, já navegou pelo terceiro setor, o setor público e o privado, sempre trazendo o viés social para o trabalho cotidiano, seja com comunicação corporativa, gestão de marcas ou reportagens de campo.