O caminhar. Por Angela Piotto.

O despertar da consciência não é um processo rápido, nem suave ou agradável. Por vezes, iniciamos a busca no exterior, seja nas diversas opções religiosas ou em terapias. Muitas vezes esse mecanismo nos incentiva a busca pelo amor próprio. Então, ingenuamente, cogitamos a possibilidade de intervenções estéticas, em níveis dos mais brandos até os mais agressivos.

Nesse contexto, organizamos a casca, mas não o conteúdo. E, mesmo com belos corpos e rostos, preenchimentos de todos os níveis, unhas artificiais, cabelos artificiais, bocão artificial, nos deparamos com a imagem no espelho, belíssimos seres por fora. E, por dentro?

Nesse ínterim, começamos a repensar que amor próprio vai além de sua autoimagem. A autoestima, que apesar de todos os cuidados estéticos ainda persiste em demonstrar que precisa de mais alguma coisa para completar-se. Seríamos belíssimas embalagens, mas que ainda virá a ser preenchida.

Começamos sutilmente a perceber que amor próprio é mais profundo. Notamos que precisamos desenvolver um autocuidado. Nesse aspecto, interliga-se, autoconhecimento e se amar como ser humano, posto que é uma das tarefas mais difíceis e árduas.

Sendo que, desde a mais tenra idade, temos como incentivo sempre ser o melhor, ter mais bens, estar à frente de outros. E, dessa maneira, tornamo-nos ao longo da existência, vazios, com egos inflados e ocos de humanidade.

Assim, o caminhar vai tomando forma, e nos atentamos que olhar para dentro de si, com aceitação, autoperdão e respeito, é o início de uma jornada longa. Todos os dias, como exercício diário, precisamos ter um compromisso conosco mesmo, nessa reforma íntima. Há dias mais fáceis e outros nos quais fracassamos.

Recebemos críticas e por vezes a solidão nos acompanha. Em alguns momentos, vemo-nos como sombra, sendo preciso humildade e autoacolhimento para reconhecer que fazem parte do nosso ser erros e acertos.

E, assim, a lentos mas preciosos passos, vamos em busca da reconstrução de um novo ser, tomando consciência e que, ao nos conhecermos, não nos tornamos seres santificados, mas que a nossa escuridão, ao ser aceita com amor, não nos perturba mais. E caminhar sem autojulgamentos, autossabotagens, ou desamor, é mais leve. Assim, com leveza, vamos refazendo nossa história, reconstruindo um eu, integral, humano e real.

Angela Piotto é graduada em Direito, pós-graduanda em Direito do Trabalho, Direito de Família e Psicologia Jurídica. Atua como Terapeuta Integrativa.