O que deveria ser um momento de encantamento e contemplação terminou em luto. O acidente com um balão de ar quente que causou a morte de oito pessoas no último sábado escancarou, mais uma vez, uma ferida aberta no turismo brasileiro: a falta de regulamentação, fiscalização e profissionalismo em atividades de alto risco oferecidas como entretenimento.
O Brasil, país de belezas naturais exuberantes, tem se tornado palco de experiências turísticas mal conduzidas, muitas vezes oferecidas sem critérios técnicos, com equipamentos improvisados, treinamento relâmpago e operadores sem a devida capacitação. É o turismo do improviso, do lucro acima da vida, da aventura que pode terminar em tragédia.
Em diversas regiões do país, é possível adquirir com facilidade passeios e atividades como voo de balão, salto de paraquedas, voo de asa-delta, mergulho em recifes de coral, mergulho com tubarões, passeios para observação de baleias, tirolesas de grande altura, bungee jump, passeios de lancha e jet ski, trilhas e cavalgadas em áreas naturais e até visitas a parques de diversões itinerantes com brinquedos de grande porte montados às pressas e com manutenção precária.
Muitas dessas atividades são vendidas como experiências únicas, mas operadas com descaso. Participantes recebem instruções mínimas. Equipamentos são usados até o limite. E a fiscalização, quando existe, é falha e eventual.
A tragédia com o balão não é um caso isolado, mas o reflexo de um problema estrutural. O turismo de aventura no Brasil carece de normas rigorosas, fiscalização constante e formação profissional sólida. Sem isso, transforma-se em uma roleta-russa: tudo parece seguro, até não ser mais.
Não se trata de criminalizar o turismo de aventura, tampouco desestimular o desejo de viver experiências marcantes. Trata-se de exigir que esse setor funcione com responsabilidade, preparo técnico e respeito absoluto pela vida humana.
É preciso compreender que, como em qualquer outro setor que lida com o público, turismo também é uma atividade técnica e estratégica, que exige protocolos, monitoramento, equipamentos certificados e profissionais capacitados. Emoção não pode ser vendida sem segurança. Lazer não pode ser sinônimo de risco.
O turismo deve criar memórias, não traumas. Deve encantar, não ferir. O Brasil precisa romper de vez com a cultura do improviso e do “vai dar certo”, substituindo-a por planejamento, rigor e consciência.
As oito vidas perdidas no balão não podem ser apenas mais uma estatística. São um alerta. E toda tragédia que se repete revela, antes de tudo, a negligência coletiva de quem poderia ter evitado.
–
Cristina Mesquita é jornalista, cerimonialista e graduada em Direito. Diretora de Comunicação da Associação Brasileira de Profissionais de Cerimonial (ABPC), é coautora do livro ‘Comunicação & Eventos’ e especialista em organização de eventos. Possui MBA em Gestão de Eventos pela ECA-USP.