NOVA COLUNISTA: Mariana Machado de Freitas - No coração das coisas.

Sobre a pedra

“De vez em quando Deus me tira a poesia. Olho pedra, vejo pedra mesmo”. (Poema “Paixão”, de Adélia Prado, in Poesia Reunida, 2015, pág. 146).

Hoje começo essa coluna semanal, um projeto de 90 dias, onde vou compartilhar contigo um pouco da minha busca pela essência das coisas: uma busca que me (e te) convida a viver com mais introspecção, silêncio interior e abertura para sentir prazer em contemplar o simples e o belo da existência.

Sim, existe um potencial estético edificante nos elementos mais banais do entorno. Extrair, enxergar, testemunhar (e realizar) este potencial é um ato encorajador da vida.

Aqui, nessa tela em branco, quero tratar da beleza simples, do belo que não se explica: que existe, que é e que se basta. Que por si só significa. E onde a razão da beleza é a beleza mesma.

Quem consegue contemplar a beleza que causa um pasmo essencial, que adentra uma espécie de transe, sabe que qualquer discurso, argumento ou palavra está, necessariamente, abaixo da experiência contemplativa.

Existem contextos que nos imprimem na alma uma espécie de ‘Ohhh’, uma mística quase involuntária. Algo que acontece diante da Capela Sistina, de um pôr-do-Sol colorido e grave, do coro da 9a. Sinfonia de Beethoven. Belezas que nos põem de joelhos.

Mas… e quando estamos diante de uma pedra? E, digamos, que essa pedra não é nem mesmo um diamante, uma ametista, uma cristal, um rubi… é simplesmente um seixo opaco como o é muitas vezes o nosso amanhecer neste mundo?

Já pegastes uma pedra na mão, sentindo sua materialidade, e questionaste: o que é uma pedra? O que é ESTA pedra?

Ela, sem dúvida, nos informa que ‘ela é’, ela existe, é uma cristalização de algo. E que algo é este? Vamos fazer o exercício?

Te espero na próxima semana para continuarmos nossa jornada ao coração das coisas!

Boa semana!

Imagem: Mariana Machado de Freitas.

Mariana Machado de Freitas é gaúcha, Mestre em Artes Visuais, poetisa, escritora e buscadora da essência e do coração das coisas.