NOVA COLUNISTA: Fernanda Campos - Contributos da educação para o desenvolvimento de competências comunicativas.

Vivemos numa era digital assentada na informação, nas redes, nas conexões, nos hiperlinks e na cibercultura em que as produção midiáticas são plurais e multimodais. Hoje, qualquer um, com acesso recursos tecnológicos de informação e comunicação, pode criar, publicar e partilhar conteúdos com milhares de pessoas. São incontáveis os canais de comunicação. A informação está disponível em formato de textos, áudios, vídeos, jogos, filmes, canais televisivos, canais independentes na internet, blogs, podcasts, artigos, redes sociais, memes, anúncios, fóruns… e mais.

Vivemos em tempos de uma enxurrada de conteúdos e de autoria (que por vezes podem ser duvidosos). Tudo isto faz parte deste cenário cultural e social, em que a colaboração, a participação, o protagonismo, a autoria e a coautoria são pressupostos.

Henry Jenkins (2006), autor do livro a ‘Cultura da convergência’, por exemplo, acredita que vivemos em uma cultura participativa, na qual a relação entre produtores midiáticos e consumidores tem se alterado. Neste contexto, as inteligências coletivas, as partilhas nas comunidades de aprendizagem, a descentralização, a dialogicidade se apresentam como práticas comuns.

Neste sentido, nos tempos hodiernos, estas novas formas de produzir, de comunicar e de criar nos trazem mais desafios, em especial, para a educação. Por isso é preciso saber se relacionar com as informações ao mesmo tempo em que é preciso saber como criar conteúdos para diferentes plataformas. É preciso desenvolver habilidades, atitudes. A comunicação na educação trouxe ressignificações preciosas.

Mas que fique entendido: o desenvolvimento de competências para a comunicação é de responsabilidade de todos: famílias, instituições escolares, professores e dos próprios meios de comunicação (uma vez que, comunicar também é educar).

Sobre quais competências estamos falando?

Neste mundo hiperconectado e com múltiplas possibilidades comunicativas, as competências requeridas são: colaborar, apreciar da diversidade, ter atitude crítica diante da informação, ter atitude reflexiva e analítica das mídias, criar conteúdos, refletir, adaptar e inovar, ser autônomo, saber utilizar as TIC como forma pessoal ou auxiliar a comunidade, ter atitudes seguras nas atividades digitais, ter atitudes responsáveis éticas, ser criativo, saber comunicar, ser resiliente, participar, estar aberto ao novo, aprender a aprender, saber lidar com a informação disponível, atuar com discernimento e responsabilidade nos contextos culturais e digitais. Ufa…

Dentre elas o que nos parece pertinente destacar são: apropriar

Desta forma, no âmbito do ensino, quando falamos de competências para comunicar, isto não diz respeito a só saber operar dispositivos, softwares ou recursos tecnológicos, mas sobre auxiliar os indivíduos a serem críticos, criativos nas formas de produzir conhecimento e na de comunicar, aprendendo com a prática.

Ou seja, estamos discorrendo que, além de saber ‘o que’ sobre o que vemos, o que lemos, o que ouvimos… é preciso também saber produzir conteúdos. É ser ativo e transformador. É reconhecer novos papéis e reconfigurar.

Questões bem simples podem ajudar a analisar uma informação:

Pode até ser que não consigamos responder a todas elas, mas conseguir problematizar estas questões diante de uma informação já significa ter uma capacidade crítica.

Devido à baixa literacia, de modo geral, da população para os meios de comunicação, enfrentamos alguns problemas, tais como: indivíduos que não compreendem as notícias, que acreditam em qualquer notícia, que alimentam a propagação de fake news, que sofrem riscos na internet (cyberbullying, rastreamento de dados, golpes).

As competências comunicativas permitem que o sujeito consiga analisar uma notícia, verificar a autenticidade e decidir se passa para a frente ou não. Oh! Se tivéssemos mais críticos… talvez as fake news não fizessem tanto sucesso e não se espalhariam tão rápido.

Quais os contributos da EDUCOMUNICAÇÃO?

Antes de mais é preciso compreender que os conhecimentos, habilidades e atitudes de educar para a comunicação não está restrito a única disciplina. É transversal a todas as áreas do conhecimento. Conforme referimos, desenvolver as competências comunicativas não é um papel exclusivo dos professores, porém, é exigido deste profissional um auxílio constante.

Reforçamos que as contribuições da EDUCOMUNICAÇÃO não se restringem a integração educação e comunicação, mas, sobretudo, trabalhar com e para as mídias. Desenvolver habilidades, competências, criticidade e produzir mídias. Se compõe, portanto, como proposta alternativa, que propõe a transformação de práticas e a utilização de metodologias ativas e inovadoras.

Deste modo, entendemos que elaborar práticas educativas para e com a comunicação pressupõe: transformar processos educativos tradicionais e verticais; problematizar as informações e apropriar criticamente os meios de comunicação; e produzir conteúdos. Significa entender que as relações são mais horizontais e menos verticais, que o diálogo é fundamental e em que a perspetiva da democratização todos terão voz.

Ou seja, não diz respeito somente a educar criticamente o para uso dos media, ou ter conhecimento técnico (utilização de computadores ou softwares) e também não é sobre agir em ambientes de redes. Esta matéria se relaciona com a transformação (inovação e criatividade), usabilidade (saber usar tecnicamente) e desenvolver competências (atitudes).

Essas atitudes são tão necessárias que foram enumeradas como uma das competências gerais da Educação Básica, delineada pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC):

5a.) Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.

Essas orientações balizam aspectos a serem trabalhados nas escolas de modo transversal e interdisciplinar.

Como fazer? Experimente propor:

– criação de um jornal digital com personagens históricos,
– criação de uma rádio com recursos de podcast,
– criação de um blog,
– criação de um canal no YouTube contando a história e os problemas da comunidade próxima a escola,
– criação de um perfil no Twitter para contar uma narrativa.

Em todas estas atividades será exigido pesquisa, organização, colaboração, parceria, resolução de problemas, desenvolvimento de novas habilidades. Em qualquer uma delas as mídias serão um apoio para a aprendizagem e o aluno estará no centro da aprendizagem, como protagonista.

Pois fazer a EDUcomunicação é fazer uma educação que estimule a autonomia, a proatividade, o consumo consciente de informação e a criticidade. Estar preparado para a sociedade digital, contempla a interpretação e criação de mensagens, seleção dos meios de comunicação e a influência sobre a oferta de conteúdo.

Para finalizar, deixo uma lista de recomendações de projetos que trabalham sobre a perspectivas de educar para e com a comunicação:

1. Bem TV – https://www.bemtv.org.br/
2. Énóis escola livre de conteúdo – https://enoisconteudo.com.br/
3. Porvir – https://porvir.org/
4. EducaEthos – https://educaethos.com.br/
5. Aula Incrível – https://aulaincrivel.com/

Olá, sou Fernanda Campos! Sou a nova colunista que integra o grupo de colaboradores e parceiros do O.C.I. Estarei aqui mensalmente, sempre no dia 08, com artigos sobre Educação e Comunicação – tema cada vez mais necessário nos tempos atuais.

Sou formada em História, mestre e doutora em Educação e tenho dedicado os meus estudos e experiências à educação a distância, educação e tecnologias, metodologias inovadoras, e Comunicação e Educação. Resido em Lisboa, Portugal.

Podem me encontrar no Linkedin: https://www.linkedin.com/in/fernandaaccampos/ ou enviar um e-mail para: fernanda.campos3x@gmail.com