NOVA COLUNISTA: Evelyn Cheida - Sustentabilidade financeira em tempos de ESG.

Nunca o fim justificou tanto o meio.

ESG (ambiental, social e governança em inglês) é a sigla do momento, apesar do conceito não trazer nada de novo. A novidade é que agora a responsabilidade verdadeiramente bate à porta, e onde mais incomoda – no Caixa. Até recentemente, bastava ser “bom pagador” e ter uma boa reputação para conseguir “dinheiro barato”.

Mas a ferramenta de gestão de risco formada pelas três letras mais buscadas no Google no último ano, agora exige que as empresas forneçam muito além de garantias financeiras aos “donos do dinheiro”, que não estão mais dispostos a riscos. Seja via empréstimo ou para atrair investidores, as regras do jogo mudaram.

A história (infelizmente bem recente) demonstrou que grandes riscos estão atrelados às questões ambientais, sociais e de governança, que podem prejudicar drasticamente a sustentabilidade financeira de sólidas organizações, desde queda de ações, pagamentos de indenizações e multas durante anos, responsabilização e prisão de executivos, até o dano de imagem, que pode muitas vezes ser irreversível. Investidores estrangeiros custaram a acreditar em escândalos socioambientais no Brasil – “Como investi meu dinheiro nisso? Cadê a due diligence?”. As aparências e relatórios de sustentabilidade enganam, e muito.

É nesse sentido que a onda mundial do ESG traz a novidade concreta. Depois de tanto green e social washing – quando o que parece nem sempre é, e a imagem que as empresas vendem de si mesmas não condiz com a realidade – o que importa agora é demonstrar por A + B que ao investir (ou emprestar) ao seu negócio, o investidor não será pego de surpresa por causas trabalhistas, danos (ou tragédias) ao meio ambiente, escândalos de corrupção, casos de assédio moral ou sexual, problemas diversos causados nas comunidades atingidas, acidentes de trabalho, trabalhadores expostos a condições indignas em toda a cadeia de produção, entre (muitos) outros.

Mas então, no resumo – e na verdade – ESG é sobre sustentabilidade financeira? Sim. Se trata de uma complexa ferramenta de análise de risco financeiro, diferente para cada negócio, em cada área e em cada lugar, de acordo com a materialidade de cada business. Mas calma. Os idealistas não precisam se decepcionar por isso, pensando que se enganaram sobre o assunto. A primeira conclusão é que quem investe e/ou empresta recursos, tem mesmo direito a saber onde está entrando. Até aí, nada de novo nem imoral nisso.

Ainda assim, sobram motivos para comemorar o que a onda ESG está causando no mundo. Meu preferido é que, ainda que o objetivo final seja financeiro, toda essa análise de risco está fomentando – ou forçando – um mundo de negócios muito mais ético, para além do lucrativo. Onde indústrias e empresas tenham real consciência de seu papel e de sua responsabilidade perante a sociedade e do quanto é importante integrar share e stakeholders do início ao fim da cadeia. Da extração de insumos da natureza ao consumidor final e além, até o descarte responsável do produto, caminhando para uma economia circular.

Ainda que o fim seja a lucratividade de sempre, o processo engloba desde o meio ambiente às pessoas, e todos são beneficiados. Ética, transparência, dignidade, sustentabilidade, inclusão e equidade são valores que fazem inevitavelmente parte da jornada. Dizem que o fim justifica os meios. No caso do ESG, são os meios que justificam imensamente o fim.

Evelyn Cheida é jornalista com sólida experiência em Relações Públicas. Possui MBA em Gestão Ambiental e está concluindo um MBA em Marketing pela USP. Começou a trabalhar com meio ambiente em 2005 e, desde então, nunca deixou de estudar e ser uma embaixadora da causa. Foi voluntária no terceiro setor, implantando a assessoria de imprensa em uma instituição que recebe e apoia refugiados. Tem vivência internacional, é apaixonada por todos os temas que envolvem ESG e também por viagens – assunto que explora em um blog onde encoraja mulheres a viajarem sozinhas.