NOVA COLUNISTA: Denise Knust - CULTURA & CONSUMO.

Segundo previsão da Confederação Nacional do Comércio (CNC) as vendas no Natal de 2019 superaram R$ 34,7 bilhões, o que significa um aumento de 4,8% em relação ao mesmo período de 2018. Na esteira deste desempenho positivo, as fábricas de embalagem bateram recorde de produção no último mês de outubro, fabricando mais de 334 mil toneladas de caixas, acessórios e chapas de papelão.

Passadas as festas de fim de ano, e com a chegada da tensão pré-fatura do cartão de crédito, é válido dedicar alguns minutos à reflexão sobre hábitos de compra, competição social e consequências do consumismo para o planeta.

O objetivo desta série de conversas sobre cultura e consumo que começa hoje é apresentar origem, evolução e impactos do consumo, passando por aspectos socioeconômicos, comportamentais, tecnológicos e ambientais, a partir do olhar da comunicação social.

Boa leitura!

Como a cultura afeta nossos hábitos de consumo

O consumo é um fenômeno moldado e dirigido em todos os seus aspectos por questões culturais.

Historiadores dão conta que o ocidente assistiu ao nascimento da sociedade de consumo no século XVIII, com o aumento da frequência das compras e a expansão dos bens disponíveis para a população como: tecidos; cerâmicas; móveis; espelhos; cutelaria e animais de estimação.

Segundo McKendrick, foi também no século XVIII que houve o primeiro esforço consciente das forças do marketing, a partir da manipulação da demanda, como explica a teoria de trickle-down (efeito cascata), que detalha o fluxo vertical da influência do consumo a partir dos hábitos das classes superiores para as classes de menor poder aquisitivo, quando o grupo social da base da pirâmide deseja reproduzir o padrão do grupo do topo, provocando um ciclo inesgotável de mudanças. Vemos este movimento atualmente quando produtos têm preço de lançamento tão alto que só alguém com grande poder aquisitivo consegue pagar por eles, conferindo-lhes condição de exclusivos. Com o passar do tempo, obsolescência tecnológica e consequente popularização, há uma tendência de queda no preço e as mercadorias tornam-se acessíveis ao público em geral, até o momento em que são substituídas por novos produtos-desejo que dão início a um novo ciclo.

A percepção deste padrão de consumo aconteceu inicialmente no setor manufatureiro. Contudo, toda a dinâmica foi alterada quando os comerciantes compreenderam o movimento e passaram a aplicar o novo conhecimento para incrementar os negócios.

A competição e o status social foram os principais impulsionadores de uma verdadeira metamorfose, já que os bens que anteriormente só poderiam ser herdados passaram a estar disponíveis para compra. Foi naquele momento que a utilidade e a necessidade deram lugar à estética e moda, que passaram a justificar o consumo.

Ao invés de bens destinados à família, as compras para o indivíduo – que já aconteciam em pequena escala desde o século XVI, mas ainda causavam certa estranheza em sociedades mais conservadoras –, tornaram-se perfeitamente aceitáveis e incentivadas.

Nasce a propaganda com sua capacidade mágica para convencer que ao comprar determinados produtos e serviços nos tornamos diferentes – até mesmo melhores – que o restante do mundo. Mas isso é tema para uma próxima conversa.

Até lá!

Denise Knust tem mais de 10 anos de experiência no planejamento e gestão de campanhas de comunicação internas e externas, ações de endomarketing, engajamento e responsabilidade social, gestão da marca, gestão de redes sociais, relacionamento com a imprensa, organização de eventos de alta complexidade e porte, dentro e fora do Brasil, gerindo equipes próprias e de terceiros.

Fontes

Alta na produção de embalagens sinaliza crescimento da indústria. Publicado no portal G1. Disponível em https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2019/12/02/alta-na-producao-de-embalagens-sinaliza-crescimento-da-industria.ghtml. Acesso em 10/12/2019.

CNC revisa previsão de vendas e empregos para o Natal. Publicado no website da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Disponível em http://www.cnc.org.br/editorias/economia/noticias/cnc-revisa-previsao-de-vendas-e-empregos-para-o-natal-0. Acesso em 30 de dezembro de 2019.

GIGLIO, Ernesto Michelangelo. O comportamento do consumidor. São Paulo: Cengage Learning, 2010.

McCRACKEN, Grant. Cultura e consumo: novas abordagens de caráter simbólico dos bens e das atividades de consumo. Tradução: Fernanda Eugênio. Rio de Janeiro: Mauad, 2003.

McKENDRICK, The Journal of Economic History. The Birth of a Consumer Society: The Commercialization of Eighteenth-Century England. Disponível em https://www.journals.uchicago.edu/doi/abs/10.1086/228228?journalCode=ajs. Acesso em 27 de novembro de 2019.