Quando falamos em produtos de limpeza para casa, qual marca vem à mente? Veja? UAU? Dr. Músculo? Essas são, de fato, líderes em recall espontâneo e dominam o top of mind do segmento. No entanto, a força e a robustez das grandes marcas não mantêm o mercado fechado. Ao contrário, novos entrantes continuam disputando espaço, impulsionados por estratégias bem definidas de branding, posicionamento e diferenciação.
Recentemente, me deparei com o slogan “Sujou, usa Dragão” num anúncio de destaque em um portal de notícias de grande circulação no Rio de Janeiro e me surpreendi porque não conhecia a marca familiar, da fabricante Interlândia, que já tem quase 80 anos de história e atuação no Nordeste.
A campanha me lembrou de uma conversa com um empreendedor do setor Agro que, contrariando expectativas, estava decidido a lançar um café popular, mesmo diante da percepção de um mercado saturado, e começava a buscar uma empresa para estabelecer sua identidade visual e pensar no processo de naming e criação de embalagem para disputar com grandes players.
Minha reação inicial e crua, em uma conversa preliminar e informal, sem avaliar os dados do mercado, foi sugerir que ele considerasse focar o nicho premium, com cafés especiais e experiência sensorial diferenciada. Mas ele, munido de dados de mercado, explicou sua decisão. Afinal, o segmento de cafés tradicionais ainda representa cerca de 80% do consumo no Brasil, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC). Embora o consumo de cafés especiais venha crescendo a taxas superiores a 15% ao ano, o mercado de massa continua sendo o de maior volume e capilaridade.
A visão dele traduz um princípio essencial do marketing estratégico: é possível competir em mercados consolidados quando há clareza sobre público-alvo, proposta de valor e diferencial competitivo. É assim que marcas como Dragão vêm conquistando o seu espaço. Com parques industriais nos estados de Alagoas, Ceará, Pernambuco e Bahia, a marca tem ampliado sua presença no Sudeste, adotando campanhas regionais, preços acessíveis e foco na distribuição como vantagens competitivas.
O que podemos tirar de lição? Em vez de fugir da concorrência, é preciso estudar o mercado, conhecer seus gaps e agir com estratégia. Em qualquer setor, sempre há espaço para quem entrega algo relevante com consistência e identidade original. Afinal, como pontua Kotler: “Marketing não é a arte de encontrar maneiras inteligentes de vender o que você faz, mas de criar valor genuíno para o cliente”.
E você, já sabe qual é o diferencial da sua marca?
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Crislayne Andrade é jornalista pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, especialista em Marketing pela Fundação Getulio Vargas, com formação internacional em Gestão de Marketing Estratégico pela Ohio University e em Neuromarketing pelo Instituto Brasileiro de Neuromarketing. Atua como consultora na Flor de Pedra Comunicação e Marketing e como revisora e editora de publicações no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.