NOVA COLUNISTA: Aline Brêtas - Reputação importa: o valor invisível que move parcerias entre governos e organizações da sociedade civil.

No atual cenário de transformações sociais e restrições orçamentárias, as parcerias entre governos e organizações da sociedade civil (OSCs) se tornou não apenas desejável, mas necessária.

Em meio a esse movimento, uma pergunta central emerge: o que faz com que certos parceiros recebam mais recursos, entreguem mais resultados e conquistem mais visibilidade institucional?

A resposta pode estar em um ativo intangível, porém decisivo: a reputação.

Em estudo recentemente premiado com o Joseph Wholey Award for Scholarship and Practice pela American Society for Public Administration (ASPA), investigamos o papel da reputação de OSCs em parcerias com o governo federal brasileiro. A pesquisa analisou 675 parcerias firmadas entre o Ministério da Saúde e 60 hospitais filantrópicos entre 2012 e 2019 — todos integrantes da espinha dorsal do Sistema Único de Saúde (SUS).

Reputação: mais do que imagem, um diferencial estratégico

A reputação foi medida com base no ranking Qualiss, da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que avalia hospitais segundo critérios como satisfação dos usuários, sustentabilidade financeira e ausência de irregularidades. Nosso objetivo era entender se uma boa reputação influenciava três elementos-chave: financiamento público, desempenho institucional e ganhos reputacionais ao longo do tempo.

Os resultados foram contundentes:

– Hospitais com melhor reputação recebem mais recursos públicos, mesmo em contextos de alta incerteza;
– Esses hospitais também apresentaram melhor desempenho institucional;
– E mais: quanto melhor o desempenho, maior a probabilidade de ganhos reputacionais nos rankings subsequentes, formando um ciclo virtuoso entre reputação, desempenho e visibilidade institucional.

Implicações para a comunicação institucional

O estudo lança luz sobre um ponto ainda pouco explorado na gestão pública brasileira: a reputação como ativo comunicacional e estratégico. Em tempos de governança colaborativa, gestores públicos e comunicadores institucionais precisam olhar para além das métricas tradicionais e considerar como percepções, confiança e legitimidade moldam a alocação de recursos e a performance institucional.

Isso implica, por exemplo, que a comunicação pública deve atuar não apenas na divulgação de entregas, mas na construção contínua de credibilidade, consistência e reconhecimento junto a diferentes audiências. Mais do que “parecer”, trata-se de “ser” confiável e eficaz — e de tornar isso visível.

Caminhos para gestores e organizações da sociedade civil

Para os gestores públicos, rankings e reputações consolidadas devem ser considerados como filtros relevantes na seleção de parceiros. Já para as OSCs, a colaboração bem-sucedida com o governo pode se tornar uma alavanca para crescimento, legitimidade e sustentabilidade.

No fim das contas, a reputação se confirma como um ativo invisível, mas com efeitos bem concretos: mais recursos, mais resultados, mais reconhecimento.

E, como revela nossa pesquisa, quando bem cultivada, ela pode transformar parcerias em verdadeiras estratégias de impacto coletivo.

Fonte: MENEZES, Aline Brêtas; PECI, Alketa. The benefits of nonprofit reputation: Government funding, nonprofit performance, and nonprofit reputational gains. Public Administration Review, v. 84, n. 2, p. 323-337, 2024.

Aline Brêtas de Menezes é doutora em Administração e mestre em Administração Pública pela Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas (FGV/EBAPE). Editora-chefe da Revista Tecnológica de Administração (FGV RETA), sua pesquisa se concentra em geração de valor público, com especial interesse no desempenho de parcerias entre governos e organizações da sociedade civil. Para mais detalhes, vide http://lattes.cnpq.br/1671174414722847