No 'novo normal' só cabe o que for essencial. Por Nayara Brito.

Acredito que essa frase nunca fez tanto sentido nos últimos meses. Entretanto, o mais difícil de aceitar é que ela deveria estar matutando em nossas cabeças mesmo antes de tudo isso acontecer e revolucionar a nossa vida. Falando especificamente das organizações, nunca foi tão desafiador fazer o básico, o famoso arroz-com-feijão.

O arroz e o feijão nada mais são do que o essencial. Aquilo que precisamos no nosso dia a dia e de que não abrimos mão. Tem que ter, tem que estar. Faz parte de quem somos e necessitamos para sobreviver. O que vem junto ao essencial é acompanhamento, é agradável, complementar. E, cá entre nós, é o que torna a experiência da essencialidade ainda mais gostosa e atrativa, dando um sentido ainda maior para a nossa instintiva sobrevivência.

Com a comunicação interna não é diferente. Muitas vezes, na ambição de ter um engajamento maior às suas causas, as empresas deixam de pensar e agir em prol do essencial e passam a focar somente nos acompanhamentos e nas atrações externas. As pessoas podem adorar a ideia de comer lasanha durante uma semana inteira, no entanto, em algum momento, sentirão falta do básico em suas rotinas.

Oferecer o básico não é tão simples quanto parece e tão revelador quanto menos se imagina. O fator de humanização é o básico. O que as organizações prometem em seus discursos organizacionais e incorporam em suas culturas, são o básico. O ‘novo normal’ nos revela a necessidade de se viver e de se comunicar somente com aquilo que é essencial e útil para aquele momento, para aquela estratégia e, como nós, comunicadores de plantão gostamos de dizer, importantes para aquela campanha.

Como escreveu Vânia Bueno, em um de seus artigos para a Revista HSM Management, ‘empresas adoecem, comunicação cura’. E, trazendo a reflexão para o nosso contexto, tudo o que for comunicado em excesso, intoxica e afasta, mas o que for comunicado com qualidade, transforma, engaja, cura e fortalece o relacionamento entre empresa e colaborador. Nesse sentido, a comunicação atua como ferramenta que alinha e supre as expectativas de ambos os lados de maneira saudável e nutritiva.

Num momento em que o paradoxo da vida pessoal e profissional passa a compor não somente a pessoa, porém todo o ambiente em que ela vive, as organizações se deparam com um cenário onde o endo não é mais endo e o interno não é mais interno. A casa das pessoas se tornou o mesmo local das atividades laborais e isso evidencia o fato de que, a comunicação interna não é mais sobre onde se está, mas sobre quem faz parte. Por isso, a comunicação não deve ser mais pensada e elaborada para as pessoas e sim, com elas.

Sabe aquela famosa frase em que dizemos que ‘o menos é mais’? Pois é. No ‘novo normal’ só cabe o que for indispensável. Sendo assim, o objetivo agora é redesenhar o plano de comunicação, rever os canais e oferecer conteúdos verdadeiramente úteis e fundamentais para aqueles que abriram a porta de suas casas para que a organização pudesse entrar e, sem tumultuar, pudesse ficar. Entretanto, este pensamento também é válido paras as unidades fabris, por exemplo, as quais ainda contam com seus colaboradores operacionais em modo presencial.

Pensar no arroz e no feijão pode parecer simples e nada criativo. Mas, lembre-se: não é tão simples quanto parece, pois exige que a organização conheça profundamente os interesses e expectativas de seus públicos internos. E é tão revelador quanto menos se imagina: talvez o engajamento o qual tanto se deseja, se dedica e não vem, esteja na falta do básico que não se oferece.

Imagem: Freepik.

Nayara Brito é relações-públicas e dedica suas escritas a temas que geram identificação e transformam pensamentos. Produtora de conteúdos organizacionais focados em comunicação interna, sempre busca trazer em seus textos o toque especial de uma comunicação mais humanizada. Acompanhe seu trabalho também em https://www.linkedin.com/in/nayarabrito/.