NO CORAÇÃO DAS COISAS - No coração das cores. Por Mariana Machado de Freitas.

Enveredei nos últimos dias a falar sobre o coração do mundo e adentrei no coração humano. Que universo fascinante! Em busca dele, vou andarilhar hoje pela trilha de uma matriz simbólica muito interessante: As cores do arco-íris, que seguem a seguinte ordem, da frequência mais baixa (e onda mais comprida) para a frequência mais alta (e onda mais curta): vermelho, laranja, amarelo, verde, azul claro, anil (ou índigo) e violeta.

Estas cores são associadas, na tradição hindu, aos sete centros de maior concentração energética do corpo humano, chamados chakras (‘rodas de luz’), que se situam ao longo do sistema nervoso central. Resumindo muito en passant:

– O chakra base, simbolizado pela cor vermelha, localiza-se no cóccix e tem a função de aterrar a psique no mundo, trazendo consciência para as questões de sobrevivência e compreensão das leis biológicas básicas do planeta.

– O chakra seguinte, chamado sacro (ou sexual), simbolizado pela cor laranja, localiza-se nas glândulas sexuais e tem a função de ativar a capacidade reprodutiva, o impulso criativo e o ânimo de vida.

– O terceiro chakra, de baixo para cima, é simbolizado pela cor amarela, fica acima do umbigo, no chamado plexo solar, está relacionado com as emoções mais primárias e menos elaboradas pela psique e é, praticamente, a central de distribuição da energia para o corpo. Ali, por onde recebemos alimento (energia) quando estávamos sendo gestados.

– O quarto chakra, chamado cardíaco, é simbolizado pela cor verde (diz-se que há uma variação, podendo apresentar a cor rosa), está localizado no coração e rege as emoções superiores, como a compaixão, o afeto, o amor (e seus inversos).

– O quinto chakra, chamado laríngeo, simbolizado pela cor azul clara, fica na garganta e rege a comunicação, a persuasão, a cristalização de ideias no mundo, a expressão do Verbo.

– O sexto chakra, chamado frontal, simbolizado pela cor anil, localizado no entrecenho, é responsável pela atenção, a concentração, o raciocínio, o interesse em aprender.

– E o sétimo e último chakra, chamado coronário, simbolizado pela cor violeta, fica localizado na moleira, no alto da cabeça e é responsável pela integração do ser humano com o cosmo, pelo desenvolvimento espiritual, pelo êxtase meditativo, as experiências místicas, etc.

Bem, o que eu pretendi com esse resumo não é convencê-los a debandar para o oriente. O que me interessa aqui é extrair algumas informações dessa matriz simbólica interessantíssima que é a das sete cores do arco-íris e sua associação com a teoria dos chakras, em busca do coração.

Vejam que curiosas informações conseguimos extrair desse sistema. Peguemos como exemplo, primeiramente, o chakra sexual, simbolizado pela cor laranja, uma cor secundária (mistura de vermelho e amarelo). Ele poderia ser compreendido como totalmente dependente do equilíbrio entre os chakras base (vermelho, instinto, vida na terra, leis biológicas) e o chakra do plexo solar (amarelo, que rege emoções e sensações mais rudes: simpatia, antipatia, agressividade e relaxamento, medo e confiança, etc).

Agora vamos partir para o chakra cardíaco, simbolizado pela cor verde, uma cor secundária (mistura de azul e amarelo) pode ser compreendido como totalmente dependente do equilíbrio entre os chakras umbilical (amarelo, emoções menos elaboradas) e laríngeo (azul, comunicação, cristalização de ideias, etc). Isso me lembra uma passagem bíblica que diz que não importa o que entra pela boca e, sim, o que sai dela (Mateus 15:17-18). E também que ‘a boca fala do que está cheio o coração’ (Mateus 12:34). As emoções primitivas contaminam o coração e, este, expressa através do verbo, cristalizando uma ação. Pensar tem uma consequência: a semente. Sentir, tem outra consequência: o broto. Mas agir, tem a consequência mais grave: a árvore que crava as raízes na terra.

Neste sistema, a cor que simboliza o coração é a verde. É também a cor que, em geral, simboliza a natureza do nosso planeta. É a cor que simboliza o reino vegetal, o campo, as matas. É a cor que pavimenta nossos passos na natureza. Excetuando o aspecto aquoso do planeta (que não é nosso habitat), o verde simboliza o nosso habitat na Terra.

O verde, no sistema dos chakras e no ordenamento das cores do arco-íris, está no meio. Assim como o coração humano está no meio entre os braços (é tão breve seu pender à esquerda). E assim como a Terra é considerada terra de oportunidade humana, no meio entre o céu e o inferno, entre o alto e o baixo.

Mas não é só o verde que simboliza o coração humano. Se mudarmos a matriz simbólica, vemos que ele ganha outras cores, como o vermelho e o azul, o arterial e o venoso, o purificado e o saturado, o místico e o conhecedor.

O coração humano é convocado a articular duas realidades, a da terra e a do céu, a compreensão básica da realidade e a aspiração pelo mais alto ideal. O coração é o incansável ponto de tensão, nosso sempiterno vai-não-vai, nosso movimento de expansão e de recolhimento, de vivência e de meditação, de levantar e deitar, abrir os olhos e fechar. Podemos enxergar o coração no centro da cruz, onde o aspecto horizontal e temporal da vida, a realidade material na terra, o tempo cronometrado que temos, se cruza com o aspecto vertical e atemporal da vida, a escala de desenvolvimento anímico e espiritual.

Dizem que temos um número predefinido de batidas do coração durante a vida. Quem duvida? Houve um tempo em que abandonei a prazerosa prática de corrida por medo de estar abreviando os meus dias. Graças a Deus, meu irmão esclareceu-me que, se durante a corrida o coração bate mais vezes, nos momentos de descanso pós-treino ele reduz drasticamente as batidas, equilibrando as contas e garantindo o bem-estar e a diminuição da atividade mental e do estresse, como na meditação que, aparentemente, ajuda muito na longevidade.

Viajamos um bocado no universo simbólico.

Boa semana e até o próximo domingo!

Imagem: ‘Da Literatura Clássica e Atemporal’ (Facebook).

Mariana Machado de Freitas é gaúcha, Mestre em Artes Visuais, poetisa, escritora e buscadora da essência e do coração das coisas.