Ninguém mais tem tempo para ler. Por Victoria Roza Cruz.

Me lembro quando ainda na escola aquela professora que eu chamava de “tia” dizia: – Para você escrever bem é preciso ler muito!

Então, logo deduzi que nunca escreveria bem. Instalei barreiras e bloqueios que eu, de fato, não estava a fim de romper. Prova de interpretação de texto? Nem pensar, que preguiça ler e entender alguma história! Um livro por bimestre? uma verdadeira morte lenta. Não foi um processo rápido, nem fácil, tomar gosto pela leitura. A certeza que eu tinha era que gostava de escrever, mesmo com inúmeros erros de português encontrados facilmente em provas do ensino fundamental, que a minha mãe guarda em uma pasta no fundo do armário até hoje.

Nessa jornada reconheci que talvez os livros não sejam apresentados como uma atividade divertida. A chave só virou para mim quando a minha turma do segundo ano do ensino médio sugeriu ao professor de literatura transformar “Os Lusíadas” em peça de teatro. E não era uma peça qualquer, era uma paródia! A ideia foi tão genial que a turma toda ficou engajada no processo de produção, nos ensaios, figurinos e, no grande dia, o auditório da escola lotou! Professores, pais, alunos, curiosos, todos pararam para conhecer a história de Luís Vaz de Camões. O resultado foi um belíssimo 10 em literatura para todos os alunos (ufa!) e uma experiência eternizada. Nosso time na escola tinha se tornado “Os Lusíadas FC” e eu, para sempre, o capitão Vasco da Gama.

Arquivo pessoal Victoria Roza Cruz – paródia “Os Lusíadas”, 2012.

Quando comecei no clube do livro, de que agora faço parte, a expectativa era me tornar uma pessoa mais disciplinada com a leitura, alguém que teria uma verdadeira coleção, e até compraria uma estante para fazer aquele cenário top para lives. Mas, a verdade é que estantes bonitas não fazem de ninguém um bom leitor. Neste espaço de diálogo e troca, que tem um livro como pontapé das discussões, reencontrei aquela Victoria da paródia d’Os Lusíadas da escola. A mãe que gosta de ler em voz alta para filha. A jornalista que se encanta ao mergulhar em um texto daqueles para aplaudir de pé. A apresentadora que ressignifica a forma de comunicar. Enfim, pasmem, o livro em si é detalhe, parte do processo, ou seja, longe de ser um fardo, como eu considerava antes.

Percebi durante a conversa que resolvi ter com você neste texto que, no fundo, precisamos encontrar maneiras de apreender histórias. Afinal, é através delas que nos reconhecemos, que resgatamos aquelas memórias gostosas, e podemos embarcar na cauda do cometa para perceber a vida e o mundo de um ângulo muito maior. E sabe o que mais? Esses grupos são mais divertidos ainda quando escolhemos uma galera que nada tem a ver com a nossa vida profissional, assim dá p’ra tirar o peso da obrigação com os resultados e surfar na magia do processo. Eu sei que ao final pensamos “não tenho tempo para isso”, mas, eu duvido que você não queira ter na sua lista de prioridades nutrir o que temos de mais valioso: o conhecimento.

Deixo aqui no finalzinho um agradecimento especial ao @clubescreva, que proporciona encontros sobre escrita, livros, autores… e, foi onde conheci meu atual clube do livro. Vale caçar o perfil pelas redes e conhecer 🙂

Victoria Roza Cruz é apresentadora e locutora na rádio SulAmérica Paradiso FM. Jornalista pós-graduada em Meio Ambiente pela Coppe/UFRJ. É, também, curadora de conteúdo e coapresentadora do OBSERVATÓRIO.COM, programa semanal da OCI TV. Acredita na comunicação que move corações e mentes, que é capaz de transformar e empoderar.