'Não aguento mais': redes sociais em tempos de pandemia e as consequências do excesso de informação. Por Mariah Eduarda Colombo.

Desde o início da pandemia do coronavírus a utilização de aplicativos como Facebook, WhatsApp e Instagram teve um aumento, segundo dados levantados em uma pesquisa pela empresa Kantar. Devido à necessidade do isolamento, grande parte dos dias são dedicados a passar horas em frente a telinhas: seja para trabalhar, seja para manter o contato com pessoas queridas ou para encontrar uma distração.

Como explica Carla Regina Françoia, psicóloga e professora do Curso de Psicologia da PUC-PR, as redes sociais tornaram-se uma válvula de escape para amenizar a solidão: ‘Elas estão cumprindo uma função social muito importante, que é de nos conectarmos uns aos outros. Isso disfarça o distanciamento social e faz passar por esse momento ser mais fácil’, afirma.

Porém, a máxima ‘ao mesmo tempo que a internet aproxima, também afasta’ – que sempre escutamos quando esse é o assunto pautado – ganhou novos sentidos. Nos últimos meses foi possível ver diversas pessoas manifestando a vontade de sair das redes sociais. A ambiguidade em querer largar as redes em tempos de pandemia pode ser justificada: a quantidade de informações que consumimos aumentou, o que provoca uma sensação de saturação.

‘As notícias que estão vindo são notícias ruins, nós estamos vivendo um momento de muita tensão, o que gera um estresse muito grande. Existe uma sensação de falta de controle e com isso você fica alheio a vida no meio de tanta informação’, define Françoia.

A sobrecarga de informação e suas consequências não são novidade: mais de 30 anos antes da popularização do Facebook, o escritor Alvin Toffler já teorizava o assunto. No livro Future Shock, publicado em 1970, Toffler já argumentava que a velocidade das mudanças tecnológicas e sociais sobrecarregaria as pessoas, deixando-as desorientadas e estressadas. De lá para cá, a previsão do autor se concretizou.

O sentimento de fadiga, física e emocional, é compartilhado. Além dos efeitos previstos por Toffler, já pontuado, esse excesso de conteúdo nos deixa apáticos.

Existe o consenso de que ler a seção de comentários em portais de notícias é um grande erro, porém é um erro que frequentemente cometemos. São nesses espaços virtuais que a falta de empatia fica mais evidente.

É fácil observar essa manifestação especialmente quando as notícias em questão tratam de tragédias com vítimas fatais, por exemplo. A necessidade de vingança, de encontrar culpados ou de julgar os envolvidos na situação está presente na maioria das vezes. Sem contar a curiosidade mórbida que alguns leitores têm em procurar e compartilhar vídeos e fotos com conteúdo violento e explícito, – que, além da falta de respeito com os envolvidos e seus familiares, é inclusive considerado crime, segundo o artigo 212 do Código Penal Brasileiro.

A professora e psicóloga Carla Regina Françoia afirma que grande parte desses fenômenos acontecem porque ainda não existe uma maturidade em relação ao uso das redes sociais: ‘As pessoas ainda não compreenderam que a rede social não é um espaço privado, mas sim um espaço absolutamente público. A própria internet nos dá a impressão de que o nosso interlocutor é unicamente a pessoa a qual estou me dirigindo, quando na verdade ela possui uma vastidão de interlocutores’, explica.

Françoia também pontua como usuários das redes sentem uma sensação de liberdade e segurança para fazer comentários no ambiente virtual que não seriam feitos em conversas ao vivo. A partir disso, precisamos ponderar que não existe uma dualidade: o mundo online é também o mundo real.

‘Estamos perdendo o limite das coisas. É importante que as pessoas tenham condições de expressar aquilo que sentem e querem expressar, mas essa liberdade tem limite: discurso de ódio e fake news não é liberdade de expressão, é crime’, afirma Françoia. Segundo a psicóloga, para atingirmos um amadurecimento em relação ao uso consciente das redes sociais é preciso interdições.

E qual a posição adequada para evitar a sobrecarga de informação e ao mesmo tempo não se alienar completamente das notícias e redes sociais?

Se disciplinar em relação ao uso do celular, ter um controle sobre a quantidade de tempo que dedicamos a esse consumo e estar ciente do volume de dados que conseguimos processar são atitudes que ajudam a evitar essa intoxicação.

Carla Regina Françoia dá a letra: ‘Que possamos usar isso como ferramenta para nos aliviarmos e não para nos tornarmos mais infelizes’, conclui.

Mariah Eduarda Colombo é curitibana e jornalista em formação pela Universidade Federal do Paraná. Entusiasta de fotografia, artes e comunicação popular. Já passou pelo Núcleo de Comunicação e Educação Popular, Museu Oscar Niemeyer e atualmente é colaboradora do G1 Paraná.