Minha melhor versão. Por Neusa Medeiros.

Tenho buscando descobrir qual a minha melhor versão. Não aquela que agrade a gregos e troianos, mas a que me encante e me faça acordar sorrindo, mesmo sem motivos aparentes.

Embora já saiba melhor quem sou, conheça as minhas preferências, o processo continua. Já reconheço que confiar neste movimento é meio caminho andado, mesmo tendo que lidar com a impermanência. Aprendi que é preciso saber se blindar, juntar os cacos que a gente mesmo espalhou, e investir na cura.

Ter um passado para lembrar pode trazer significado ao momento atual. Sei onde certos atalhos vão dar e tenho mais clareza das encruzilhadas que a vida apresenta. Não lembrar mais da vida que já passou deve ser uma crueldade absurda. Apagar os rostos e a nossa história é como viver pela metade, sem a compensação da saudade. É não poder revisitar os melhores momentos. É tirar o tempero da vida. É passar de protagonista a expectador. É anular o passado e desconhecer o que nos trouxe até aqui. Dolorido viver assim. Como seria essa vida, sem as lembranças que nos permitem fazer escolhas mais assertivas?

Tenho acessado o meu Raio X emocional e vasculhado o que carrego por dentro. Como citou o filósofo espanhol José Ortega y Gasset, “eu sou eu e minha circunstância, e se não salvo a ela, não me salvo a mim”. E então sigo, vivendo e aprendendo, tendo presente o meu propósito que, na prática, deve reordenar as minhas ações.

Na realidade, viver, por si só, já é um desafio, pois, como decretou o filósofo Mario Sergio Cortella, “não ter desafios é um fator de risco para a motivação”. Então, respeito quando sinto aquele frio na barriga. Ele sinaliza que estou viva, intensa, e que sigo fluindo. Afinal, temos que reconhecer os sinais, aprender a fazer e desfazer planos.

Recomeçar faz parte do viver. É inevitável. Sendo assim, visto a minha melhor versão e desarmada deixo o universo cumprir o seu papel. Escrever a própria história tem destes percalços. Sempre falta alguma coisa, mas hoje vou focar no que tenho. Opa, uma batida na porta! É a felicidade pedindo passagem. Pode entrar! Seja bem-vinda!

Neusa Medeiros é jornalista, com pós-graduação em Metodologia do Ensino Superior. Sócia-diretora da empresa Edição 3 – Comunicação Empresarial, com diversificada atuação na área. Atuou, por vários anos, como assessora de imprensa e professora universitária na Unisinos, e como colunista no Jornal VS, do Grupo Editorial Sinos, onde segue como colaboradora.