Mãe VERSUS Pai... a sociedade patriarcal. Por Angela Piotto.

Muitas famílias originam-se da paixão, do entusiasmo pelo novo ou de puro egoísmo. A motivação que levou um casal a unir-se pode ser variada, entretanto, o tempo às vezes traz à tona o que no início parecia ser um conto de fadas.

Quando inicia-se o processo de gestar os filhos, algumas das características que estavam despercebidas aparecem. Alguns casais mesmo em conflito de valores, de objetivos de vida, resolvem ter filhos para preencher uma lacuna da sua esfera íntima. Como se esses fossem responsáveis, tivessem o dever de consertar más escolhas oriundas dos genitores.

Assim, muitas mulheres que não têm o dom da maternidade geram filhos sem as condições emocionais de acolhimento dessa gestação. Muitas engravidam por pressão da sociedade, marido ou da família, gerando conflitos imensos entre recém-paridos e a parturiente.

Muitas mulheres tiveram filhos de maneira idealizada por outros, não por ela mesma. Não conseguem estabelecer um vínculo com a criança, sendo por vezes negligentes com os cuidados físicos, pessoais, emocionais e psicológicos do filho.

Quantas crianças são abandonadas, à própria sorte, desde o primeiro chorar? Quantas mulheres fragilizadas envolveram-se em relacionamentos destrutivos e, ao parir, desfizeram-se da cria?

Isto sem contar mães que matam os filhos por consequência de processos depressivos pós-parto. Ou por distúrbios psicoemocionais desenvolvidos ao longo do relacionamento, gestação ou pós-parto.

A sociedade julga e aponta: “que tipo de mãe é essa? Uma mulher dessas não deveria ser mãe!”. São algumas das exclamações mais observadas nesses casos.

Mas, a pergunta é: “e, o pai?”. A responsabilidade de uma gestação deve ser de ambos. A mesma após o nascimento. Porém, a sociedade aceita a irresponsabilidade paterna, não a materna.

As mulheres são julgadas – se não querem ser mães – e são julgadas se são péssimas mães. Mas e os homens? Porque podem querer não ter filhos e… tudo bem? Porque podem abandonar uma mulher que engravida e somente ela ser responsabilizada? Porque as mulheres precisam engravidar para que o marido e a família fiquem felizes? Ela se vê como mãe? Pois mãe não é só parir, assim como pai não é só gerar.

Muitas crianças foram abandonadas, mas, e quem gerou, teve apoio do parceiro ou não? Um erro não justifica o outro. Mas a responsabilidade é do homem, assim como da mulher. Se a mãe abandonou a criança, ele também a abandonou.

Infelizmente, ainda, observa-se o uso dois pesos e duas medidas. “Ah, mas é que ele é homem, aí sabe como é…”, “… ela é mulher e não deveria agir assim”.

Os homens são corresponsáveis por iniciar uma família. E isto vai além de vida financeira estável. Você pode não estar mais na relação conjugal, deixando de ser companheiro ou marido, mas não deixa de ser pai. Responsabilidade independe de situação financeira. Exige-se comprometimento pessoal.

Será mesmo que este é o homem ou esta é a mulher dos sonhos… ou é isto que você quer enxergar? Depois, ouve-se de ambos, “nossa! fulano(a) mudou tanto, não era assim”. Ouve-se “fulano é péssimo pai”, “beltrana é péssima mãe”, “sicrano(a) só pensa em si mesmo, ficou tão egoísta, é irresponsável com os filhos e o casamento”. E tudo bem…

O péssimo hábito de vivermos idealizações, projetos dimensionais dos nossos desejos, causa transtornos e nem sempre é possível reverter, sendo os mais prejudicada, as crianças.

Por isso é inevitável um amadurecimento. E que homens e mulheres sejam responsabilizados da mesma maneira. Somente assim diminuiremos transtornos emocionais na infância.

Angela Piotto é graduada em Direito, pós-graduanda em Direito do Trabalho, Direito de Família e Psicologia Jurídica. Atua como Terapeuta Integrativa.