Jornalista, comunicador ou 'prompteiro'? Por Cristina Mesquita.

Nunca se produziu tanto conteúdo. Textos para sites, blogs, redes sociais, discursos, relatórios, roteiros. Em questão de segundos, é possível gerar parágrafos inteiros com uma única instrução. Uma frase mal escrita se transforma em algo “publicável” num clique. Parece mágico. Mas é aí que mora o desafio e a pergunta que paira no ar: quem está realmente comunicando?

O avanço da inteligência artificial, especialmente em ferramentas de linguagem como o ChatGPT, abriu um novo horizonte para a comunicação. Mas junto com a eficiência veio a confusão. Estamos formando jornalistas e comunicadores ou apenas bons “prompteiros”?

O termo “prompteiro”, antes técnico e quase desconhecido, ganhou protagonismo. Hoje, muitos profissionais se definem assim e dominam a arte de conversar com máquinas. Sabem como dar comandos, estruturar instruções, adaptar tom. Tudo isso tem valor. Mas saber fazer perguntas a uma IA não é o mesmo que saber fazer jornalismo. Não é o mesmo que comunicar com verdade.

Porque o comunicador não é apenas um intermediário entre uma dúvida e uma resposta. Ele é, antes de tudo, alguém que interpreta o mundo. Que observa o que está fora do quadro, que escuta além do óbvio. Que se incomoda com o superficial, que confronta o senso comum e que se responsabiliza pelo que publica.

A IA pode ajudar, e muito. Pode sugerir caminhos, organizar ideias, propor formatos. Mas ela não sente, não desconfia, não se emociona, não investiga. Ela não ouve o silêncio, não percebe a hesitação de uma fonte, não tem memória afetiva. E, por mais treinada que esteja, ainda depende de quem a alimenta. Ou seja, o “prompteiro” é a alma do que a máquina entrega. E se ele for raso, o texto também será.

Estamos diante de uma encruzilhada ética e profissional. Por um lado, a agilidade que a IA proporciona é bem-vinda, especialmente num mundo onde o tempo parece sempre escasso. Por outro, corremos o risco de perder algo essencial, o pensamento crítico, a apuração cuidadosa, a escrita com identidade. O conteúdo produzido por máquinas pode parecer correto, mas será que ele tem propósito? Tem contexto? Tem vida?

Ser jornalista ou comunicador, hoje, exige mais do que nunca saber usar a tecnologia sem se render a ela. Exige responsabilidade com a informação, com a linguagem, com o outro. Exige autoria.

O futuro da comunicação não será de quem escreve mais rápido, mas de quem escreve com mais consciência. Não será de quem gera textos aos montes, mas de quem é capaz de dizer algo que realmente importa.

Então, fica a pergunta… e que cada um responda com honestidade:

– Você está comunicando… ou apenas apertando enter ?

Cristina Mesquita é jornalista, cerimonialista e graduada em Direito. Diretora de Comunicação da Associação Brasileira de Profissionais de Cerimonial (ABPC), é coautora do livro ‘Comunicação & Eventos’ e especialista em organização de eventos. Possui MBA em Gestão de Eventos pela ECA-USP.