O tema da coluna deste mês era outro, mas, diante do ocorrido na cerimônia de entrega do Oscar 2022, realizada no último dia 27 de março, quando Will Smith deu um tapa no rosto do comediante e um dos apresentadores do evento, Chris Rock, após um comentário deste sobre a cabeça raspada da esposa de Smith, Jada Pinkett Smith, resolvi elencar alguns pontos para reflexão, pois o ocorrido pode ser avaliado por diferentes perspectivas.
Hora de dar voz a Jada Pinkett Smith: nessa história toda, Jada, alvo do comentário, não se manifestou imediatamente. Ela declarou, antes do evento em seus perfis nas redes sociais, que gosta do seu novo visual: “não dou a mínima para o que as pessoas sentem sobre essa minha careca. Sabe por quê? Eu a amo”. Assim, o protagonismo feminino necessita ser resgatado, os sentimentos e a voz de Jada foram abafados pelos hormônios masculinos. A atriz só se manifestou em uma publicação no Instagram na terça-feira seguinte (29/03), com uma mensagem bem sucinta: “Essa é uma temporada de cura. E estou aqui para isso”. Enquanto muitos estão por aí interpretando fatos, ela se contém e deixa as coisas “esfriarem”.
Cabeça raspada de Jada Pinkett Smith: diferentes tipos de alopecia, quimioterapia, anemia, lúpus e alterações na tireoide são algumas das doenças e tratamentos que podem levar a perda total ou parcial dos cabelos. Creio que já passou da hora de se normalizar este tipo de visual que, afinal, também é adotado espontaneamente por celebridades e pessoas em nosso cotidiano. Esta é uma oportunidade de se enfraquecer os estereótipos de beleza e do feminino, os quais definiram padrões do que pode ser considerado bonito e esteticamente atraente. Por décadas, as capas de revistas estamparam “celebridades” com seus cabelões que ajudaram a firmar a imagem da mulher sexy. Pelo que ocorreu, podemos nos questionar que Will está mais incomodado com o visual de sua mulher do que ela mesma.
Bullying: a cerimônia do Oscar é chata por excelência, em minha opinião, e cheia de piadas sem graça, principalmente em função da Academia selecionar muitos comediantes para a condução da entrega, tais como Billy Crystal, Steve Martin e Ellen DeGeneres. Quantas vezes se ouviu bullying naquele teatro? Quantas vezes Will Smith riu de piadas que ridicularizavam alguém fora do seu círculo familiar? A Academia precisa continuar utilizando comediantes? Que tal utilizar jornalistas? Chris poderá aprender algo e outros profissionais do universo da comédia também, pois temas que fizeram sucesso no passado são, atualmente, inadequados.
Controle dos impulsos violentos e inteligência emocional: já que o comentário vindo de Chris Rock incomodou, não seria mais educado que Will Smith subisse ao palco, pedisse um microfone e dissesse que Jada é talentosa, linda e pode fazer o papel que ela quiser? Sem tapa, com classe. Na segunda-feira, 28, em uma mensagem postada nas redes sociais, Will destacou que “a violência em todas as suas formas é venenosa e destrutiva. Meu comportamento no Oscar de ontem à noite foi inaceitável e imperdoável’. Violência não deve ser nunca a primeira opção. Seu ato repercutiu ao vivo em uma transmissão global. E não venha dizer que o amor leva a fazer loucuras! Essa é a justificativa de muitos que praticam feminicídio e violência contra seres humanos. O erro de Chris Rock não justifica a reação intempestiva de Will. Erraram todos.
Por fim, a “piada” de Chris Rock, que seria facilmente esquecida – como tantas frases infelizes que ouvimos por aí -, ganhou repercussão na imprensa e redes sociais do mundo inteiro. Diante disso, só nos resta aprender algo e refletir sobre este acontecimento. Por outro lado, ocorrem cenas piores que estas no cotidiano de muitas famílias. E violência nunca deveria ser a primeira opção.
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Chris Santos é profissional com 30 anos de experiência em agências de comunicação, relações públicas, assessoria de imprensa, eventos e marketing digital. Clientes atendidos: Associação Brasileira das Empresas de Software, Unilever, Avon, Lojas Renner, Karsten, Mahogany, Adcos, entre outras. Graduada em Relações Públicas (1990) e em Ciências Sociais (1997) pela USP, com especialização em Gestão de Processos Comunicacionais (USP), MBA em Gestão de Marcas (Branding), pela Anhembi-Morumbi, e mestre em Comunicação e Política pela UNIP. Tem se dedicado ao estudo de tendências nas áreas de marketing digital, comunicação e política e tecnologias da comunicação e informação.