FUTURO DO PRESENTE - Sobre marcas e metaverso. Por Mariah Guedes.

No último domingo (dia 13/02/2022), ocorreu o Super Bowl (*). Este evento de futebol americano há muito tempo rompeu as barreiras do esporte (e as fronteiras geográficas dos EUA). O jogo da NFL (maior liga estadunidense desta modalidade) – que representa a partida final do campeonato e decide quem fica com o título da temporada – se tornou uma excelente oportunidade midiática para empresas realizarem associações de marcas e investirem maciçamente em experiências diferenciadas para cerca de 100 milhões de espectadores e espectadoras (audiência média da última década apenas no seu país de origem).

Assim como em outras edições, este mais recente espetáculo (o de número 56) ainda movimenta as redes sociais digitais. Durante toda a madrugada, esteve entre os tópicos mais comentados nas principais plataformas, e uma das maiores expectativas do mercado para a atração era como os grandes anunciantes e patrocinadores se manifestariam e apresentariam suas ações publicitárias naquele que é considerado o intervalo mais caro do mundo (em 2022, a imprensa especializada estima que o valor de um VT de 30 segundos na NBC – rede detentora dos direitos de transmissão – foi de aproximadamente U$ 7 milhões). E o SB LVI não decepcionou.

Cerca de 30 comerciais foram exibidos, sendo que vários tangenciaram assuntos tecnológicos. Seja o vídeo imaginando uma versão da Alexa – assistente conversacional da Amazon – com capacidade de ler pensamentos ou o do “cachorro robô” da montadora Kia que retorna à vida ao ter sua bateria carregada. Raro foi encontrar alguma marca que não apostasse nesse tema ou não ventilasse possibilidades para o futuro. Além disso, o encerramento da noite se deu com um show musical da banda Foo Fighters no “metaverso”, acontecimento considerado um sucesso (mesmo com relatos de alguns problemas técnicos).

E, então, o que é o metaverso? Mesmo com todo o burburinho em torno da Meta Platforms (atual nome da corporação que detém o Facebook, o Instagram, o WhatsApp e outras redes sociais/serviços de mensageria online), o termo não foi a palavra do ano de 2021 (**), deixando claro o quão incipiente é o tema. De forma simplificada, ele é um universo online hiper-realista e ultraconectado, com criação e exibição de avatares pessoais e perfis personalizados, utilizando uma estratégia comum no mundo de games como Second Life e Fortnite. Portanto, o metaverso não é um novato (sua primeira citação bem próxima do contexto atual foi em uma obra literária de sci-fi há 30 anos): é apenas explorado. Ele é uma forma de expansão do ciberespaço, deixando ainda mais embaçadas as fronteiras já borradas entre vida virtual e vida real – o que nos leva a exclamar “isso é muito Black Mirror!”, em referência à série distópica disponível na Netflix.

Quando inaugurei minha coluna aqui no Observatório da Comunicação Institucional, falei dos três “is” do processo comunicativo. Para quem não se lembra: imediato, intenso e interativo. Com a consolidação das novas tecnologias de informação, temos um quarto item potente: o “i” de “imersivo”. Esse mergulho na internet nos traz termos como realidade alternativa, realidade aumentada, realidade virtual e outros que ficarão cada vez mais comuns no metaverso – principalmente ao fazerem parte das estratégias marcárias para gerar um impacto nos usuários (o fator “uau”, de deslumbramento).

São muitos os desafios neste cenário que se revela. Criativos e lúdicos, com a potencialização da gamificação; inovadores, ao passar por transformações técnicas; ou desumanizadores, devido ao excesso da virtualização. O alerta não é novo, mas é bastante atual (e tem se intensificado). Mas também existem oportunidades. 

Porque não importa o quão digitalizado esteja o mundo, ele ainda precisa da humanidade. De ser humano, de atender às necessidades humanas. E o ambiente online não pode nos deixar esquecer o que permite a sua existência: a conexão. É ela que nos interliga e integra.

(*) Para registro: o time Los Angeles Rams foi o campeão. 

(**) Foi a sigla NFT (em português, “token não-fungível”). 

P. S.: O texto de hoje foi inspirado pelo pedido de leitor amigo (ou amigo leitor?) que é um talentoso artista pernambucano e professor de História. É muito gratificante ver estes conteúdos circulando e tocando profissionais de diversas áreas. Agradeço pela leitura e pela contribuição. Até quarta que vem. 

Mariah Guedes é mestra em Comunicação & Cultura, leitora ávida, canhota, macaense e queer. Acompanhe sua trajetória acadêmico-profissional em https://br.linkedin.com/in/mariahguedes.