FORA DA CAIXOLA - Vulnerabilidade e coragem.

Observar é uma arte. Olhar para dentro, então, é algo que poucos se prestam a fazer.

Fica mais fácil opinar sobre a vida alheia do que enxergar as próprias mazelas.

Conclusão: a antiga fofoca de bairro ganhou os veículos de comunicação e, agora, as redes sociais.

Por isso, em muitas rodas de conversa, o que mais se ouve é divertir-se com o vexame de uma artista, a separação de outra, a doença de alguma celebridade e por aí vai.

Não se fala sobre coisas úteis há muito tempo nesses grupinhos festivos. Afinal, sempre resvala como algo exibicionista quando falamos de nós, e por intrometidos quando perguntamos dos outros.

E, de forma tradicional, não se discute política, futebol e religião em momentos sociais. Deste jeito, essa conversa fica restrita a encontros com pessoas que pensam parecido, são do mesmo time, partido ou igreja.

Eu sempre digo que a melhor forma de enxergar o macro, ter uma visão de cima do labirinto, olhar fora da caixinha é… Enxergar com o olho do outro, o que pensa diferente e te convida a refletir.

Não gosto de ser do contra, mas fazer parte de uma massa que sai fazendo sem pensar está completamente fora de moda. Convido, diariamente, muitas pessoas a pensarem e controlarem a mente. É através desse hábito que mudamos a nossa realidade.

A cada convite aceito, um feedback revelador. Isso porque nosso cérebro adora mudar e até coisas simples, como tocar violão ou sair com os amigos, podem ajudá-lo a funcionar melhor. Um dos maiores neurocientistas brasileiros, Sidarta Ribeiro conta que ‘a massa cinzenta é extremamente plástica e o que mais ajuda é ler muito e conversar’.

Portanto, acrescentar conhecimento é fundamental para não nos tornarmos papagaio de verdades absolutas. A realidade é plural e saber ouvir é o convite para podermos opinar também. O cérebro agradece mentalidades flexíveis. A cientista social americana Brené Brown explica que boa parte dos diálogos que presenciamos estão recheados de julgamentos, críticas e exigências. Só que quando ouvimos críticas e nos sentimos julgados, damos espaço para sentimentos como raiva, tristeza, culpa e medo. Não sabendo lidar bem com isso. Muitas vezes tomamos atitudes rudes, agressivas ou desligamos. Nesse contexto, ela nos explica a vantagem de nos despirmos da armadura e mostrarmos quem se é de todo o coração, com autenticidade, a fim de expor nossas imperfeições. Para se conectar, é preciso deixar a pessoa que você acha que deveria ser ir – para dar lugar a quem você realmente é.

Para todo diálogo, coragem. Para mudar, vulnerabilidade. Para a vida, autenticidade.

Carla Brandão é jornalista, palestrante, life coach certificada, escritora e professora universitária. Estuda e difunde os benefícios da programação neurolinguística, do mindfulness, da meditação e da psicologia positiva há dez anos. Especialista em desenvolvimento humano, com visão prática sobre automotivação, administração do tempo, melhoria contínua e inovação. Autora do livro #DoeCoragem – Manual divertido de viver o agora, e criadora do Podcast ‘Na trilha da Coragem’.