FORA DA CAIXOLA - Um respiro necessário... sqn...

Esse Carnaval não foi só mais um momento de alegria, como de costume. Ganzá, reco-reco e surdo trouxeram um novo ritmo para um começo de ano cheio de notícias tensas, continuação de um 2018 de muitas discussões políticas e desencontros ideológicos.

Fato é que ganhamos um Carnaval para relembrarmos que somos um país cheio de conflitos e desigualdades, mas que também é um lugar cheio de alegria, vontade de acertar e ânimo para ir em frente. O que vi, nesses dias, foi um alento para tempos cheios de rigidez. Voltamos a ter malemolência, ativamos algo que se esconde em nossas almas e que é a nossa marca registrada: o respeito à diversidade, algo que conhecemos desde 1500. Afinal, somos uma mistura de povos indígenas, colonos portugueses, escravos africanos e imigrantes de todas as partes do mundo, como italianos, alemães, holandeses, espanhóis, japoneses, sírio-libaneses, poloneses e ucranianos.

Mas então, os brasileiros e não brasilianos ou brasilienses, como deveria ser se fossem seguidas as regras gramaticais, são fruto de tanta mistura que fica impossível querer promover uma separação por categoria e origem. Somos o que somos porque nos roubaram tanto com os santos do pau oco, seja para levar ouro, como para mandar dinheiro falso, que ficamos com medo de que isso possa acontecer de novo. E, como o medo atrai o objeto que é temido, acontece até hoje.

Por isso, o ‘carna vale’, que vem do Latim ‘adeus à carne’, serve também como um momento de mudança, onde o inconsciente tem voz, as pressões de uma rotina corrosiva abrem alas para a expansão e a brincadeira e, como disse a maravilhosa escritora Conceição Evaristo: ‘em um discurso satírico se faz muita reflexão’.

Que seja assim, que o evento que precede a Quaresma de 2019 promova o entendimento que a minha liberdade termina só quando afeta a liberdade do outro e vice-versa. Se é só uma questão de gosto, opinião, preconceito, medo, raiva e complexos, não tem o nome de liberdade e não pode ser cerceada.

Esse momento onde todo mundo fica junto e misturado é o exemplo que nosso 2019 precisa para preconizar tempos de tolerância.

P. S.: No mesmo instante em que terminava esse texto, o Presidente da República Jair Bolsonaro soltava uma verdadeira bomba no Twitter dele, um vídeo dantesco que representaria o que foi o Carnaval no país que ele governa. O representante oficial de uma nação não pode opinar publicamente sobre tudo e sobre todos – de forma aparentemente ingênua – pois que beira a irresponsabilidade. Sr. Presidente, comece a mostrar conhecimento, postura e hábitos que o elevem a tal posto.