Favoritismo social. Por Angela Piotto.

Desde os primórdios – em relatos históricos -, observa-se o favorecimento de classes, seja pela cor de sua pele, por matrimônios arranjados entre as famílias abastadas ou até mesmo pelo ofício desempenhado.

Observando os tempos longínquos, destaca-se sempre a penosa luta da classe operária por melhor condições de vida versus a vida de regalias da aristocracia – um passado que deveria nos trazer aprendizados e um despertar para um novo modelo de sociedade.

Em pleno período de “reinado” das gerações Y e Z, qual seria o nosso tão idolatrado futuro? Ou seja, qual será o amanhã das gerações jovem/adulta e pré-adolescente atuais? Foram tão minuciosamente polidos pelos genitores que não conseguem nem cortar as unhas dos próprios pés, quanto mais discernir o justo nos tempos atuais.

Assim, incumbe-nos a análise e o repensar da seguinte questão: não generalizando, mas por observação, como esperar resultados diferentes de uma geração que continua a ser ensinada que só quem estuda em colégios particulares, apenas quem pertencer às classes A ou B, ou quem cursa determinadas faculdades, ou quem escolhe determinados cursos, pode ser considerado um “sucesso pessoal”? Isso é tão retrógrado e arcaico que deveria estar em desuso.

Isto posto, a modernidade continua a trazer os mesmos impactos e controvérsias que havia em tempos pretéritos. Ou seja, quem tem mais, e quanto mais, mais bem quisto e visto é, não importando a maneira que alcançou o tão almejado status. Dessa forma, absurdamente, continuamos a perpetrar os mesmos desvalores. E as oportunidades são mais propensas a quem pertence àqueles círculos.

Por consequência, temos mais do mesmo, uma geração vazia, egoísta e desumana. Um futuro com jovens políticos, já aprendizes de meios subversivos e corruptos. Um presente e um futuro vivenciados por uma geração mesquinha e sem empatia, em que a Lei se curva a quem paga melhor, em que a Lei é feita por quem pode mais, tornando a Justiça uma terra de leiloeiros… ou de ninguém.

Jovens profissionais ostentam nas redes sociais uma riqueza tão cara quanto o ouro de tolo. Ensinados a ter, humilham uns aos outros, e praticam a empatia apenas quando lhes convêm. Estão tão emaranhados numa teia de interesses próprios, que o outro pode morrer à porta do seu prédio, pedindo um pedação de pão… Humanos de corpo e mente mas desumanos de coração.

Seguindo assim, teremos ainda uma escravatura velada, de negros e favelados que precisam lutar diariamente por dignidade, observando-se à margem da sociedade – toda uma classe de pessoas obesas, de mães solteiras, homossexuais, operários, aqueles que são rotulados como “não aprovados”. Como se o ser humano fosse parte de uma linha de produção e houvesse um setor de “qualidade”, onde são descartados aqueles que, sob olhos minuciosos, apresentam “imperfeições”.

Favoritismo social é uma doença que envenena gerações. É uma doença que rouba o direito das pessoas de viver dignamente, roubando oportunidades de um futuro melhor. O mundo ideal não existe, mas podemos fazer a nossa parte e adequar nossa visão a um prisma mais prudente. Incorporar valores para que, por fim, consigamos uma geração que tenha mais humanidade. Aí, teremos um mundo realmente no qual a justiça independerá de quem ou quanto ganhará e a quem beneficiará.

O mundo perfeito é utopia mas somos responsáveis por torná-lo pelo menos habitável. Há séculos repetimos as mesmas insanidades, esperando resultados diferentes. Está na hora de um despertar – e com uma nova abordagem -, semear um futuro melhor.

Angela Piotto é graduada em Direito, pós-graduanda em Direito do Trabalho, Direito de Família e Psicologia Jurídica. Atua como Terapeuta Integrativa.