No último dia 13 de maio, tive o privilégio de participar, ao lado da querida Alketa Peci, do webinar promovido pelo Center for Accountability and Performance da American Society for Public Administration (ASPA). O evento celebrou nossa pesquisa, reconhecida com o 2025 Joseph Wholey Distinguished Scholarship Award, e abriu um espaço generoso de diálogo com colegas do mundo todo sobre como a reputação de organizações da sociedade civil influencia o desempenho das parcerias com o governo federal na área da saúde.
Durante o debate, uma pergunta da audiência nos levou a expandir a lente: “A reputação importa apenas na área da saúde, ou também em outras políticas públicas?”. A resposta foi imediata – sim, importa. E, talvez, na educação, ela seja ainda mais decisiva.
Tomemos como exemplo o Instituto Ayrton Senna, cuja reputação foi construída ao longo de décadas com base em evidências, compromisso com o interesse público e forte capacidade de inovação pedagógica. Esse reconhecimento permitiu estabelecer parcerias de larga escala com governos estaduais e municipais em todo o país. No Ceará, por exemplo, o Instituto atua na implementação do programa Educação que Faz a Diferença, focado em competências socioemocionais (1). Em São Paulo, colabora com a Secretaria da Educação com o programa SuperAção Jovem, uma iniciativa voltada ao desenvolvimento de competências socioemocionais em escolas públicas de tempo integral, promovendo o protagonismo juvenil e a cultura de projeto (2).
Outro caso é o da Fundação Lemann, que atua em articulação com secretarias de educação para a formação de lideranças públicas, o apoio à implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e o uso de dados para tomada de decisão. No estado do Espírito Santo, por exemplo, a fundação apoiou a construção de um sistema de gestão educacional com base em evidências, em parceria com a Secretaria de Estado da Educação – SEDU-ES (3).
A reputação, nesses casos, não é apenas um símbolo – é um recurso que gera acesso, estabilidade e impacto. Ela dá às organizações o status de parceiras estratégicas do Estado, permitindo que projetos ganhem escala e sustentabilidade. E é justamente esse capital simbólico que nos interessa: como ele é formado, mobilizado e recompensado nas relações entre governo e terceiro setor.
Se, na saúde, a reputação pode significar a diferença entre obter ou não recursos públicos para um hospital filantrópico, na educação ela define quem será ouvido no debate público, quem terá lugar nas mesas de formulação de políticas, e quem será chamado a implementar soluções em contextos de urgência.
Seguimos, entre o visível e o público, refletindo sobre como recursos intangíveis – como conhecimento e reputação – produzem efeitos muito concretos. Reputação é política pública. E trazê-la ao centro do debate é também um convite a pensar formas mais transparentes, justas e colaborativas de governar.
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Referências
(1) CEARÁ. Secretaria da Educação. Educação do Ceará assina termo de cooperação com Instituto Ayrton Senna. 28 ago. 2017. Disponível em: https://www.seduc.ce.gov.br/2017/08/28/educacao-ceara-assina-termo-de-cooperacao-com-instituto-ayrton-senna/. Acesso em: 15 maio 2025.
(2) INSTITUTO AYRTON SENNA. SuperAção Jovem. Disponível em: https://institutoayrtonsenna.org.br/o-que-fazemos/disseminacao-escala/superacao-jovem/. Acesso em: 15 maio 2025.
(3) ESPÍRITO SANTO. Secretaria da Educação. Sedu participa do ‘Seminário PARC 2021: Compromisso de todos pela alfabetização das crianças’. 6 out. 2021. Disponível em: https://sedu.es.gov.br/Not%C3%ADcia/sedu-participa-do-seminario-parc-2021-compromisso-de-todos-pela-alfabetizacao-das-criancas. Acesso em: 15 maio 2025.
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Aline Brêtas de Menezes é doutora em Administração e mestre em Administração Pública pela Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas (FGV/EBAPE). Editora-chefe da Revista Tecnológica de Administração (FGV RETA), sua pesquisa se concentra em geração de valor público, com especial interesse no desempenho de parcerias entre governos e organizações da sociedade civil. Para mais detalhes, vide http://lattes.cnpq.br/1671174414722847