No encerramento de mais um ciclo como docente do Curso Intensivo de Pós-Graduação em Administração Pública (CIPAD), fui tomada por um sentimento que nem sempre associamos, de imediato, ao trabalho acadêmico: amor. Não o amor idealizado, romântico, mas aquele que se manifesta em dedicação, escuta e construção coletiva de sentido. Um amor que se comunica. Que mobiliza. Que organiza.
Esse sentimento encontrou forma concreta na entrega de um grupo de alunos da Polícia Civil, que desenvolveu o caso de ensino “Uma DEAM para chamar de sua”. A proposta, que nasceu como um exercício avaliativo, transformou-se em uma potente peça didática sobre a luta institucional contra a violência de gênero. O trabalho – que incluiu texto, cordel e vídeo – superou qualquer expectativa inicial e me levou a refletir: o que significa, afinal, comunicar com AMOR em sala de aula?
Essa reflexão me conectou à estratégia de oratória que venho experimentando e que, não por acaso, também se chama AMOR: Atenção, Motivação, Objetivo e Roteiro. Quatro pilares simples que têm me ajudado a construir conexões autênticas com os discentes e a promover entregas de alta qualidade, mesmo em tempos curtos e agendas apertadas.
- A de atenção: porque toda boa comunicação começa com escuta. Prestar atenção às experiências dos alunos, às suas referências culturais e trajetórias profissionais é essencial para ativar o que já existe e criar pontes entre o conteúdo e a prática.
- M de motivação: porque só há aprendizado significativo quando há desejo de aprender. Trabalhar com casos reais, trazer exemplos da administração pública e permitir que os próprios alunos se reconheçam como autores são formas potentes de gerar engajamento.
- O de objetivo: porque ensinar não é acumular conteúdos, e sim conduzir uma jornada com direção. Explicitar os objetivos de aprendizagem e envolver os alunos na construção de soluções públicas com propósito claro favorece o protagonismo.
- R de roteiro: porque a espontaneidade não dispensa estrutura. Ter um roteiro bem delineado – com espaço para diálogo, atividades práticas e produção colaborativa – permite que a aula flua com consistência e significado.
Foi com essa bússola que convidei os alunos a desenvolverem um caso de ensino baseado no modelo da Revista Tecnológica de Administração (RETA), que edito com tanto carinho. E foi com AMOR que eles responderam: com rigor conceitual, inovação didática e compromisso com o serviço público. O cordel produzido – sensível, criativo, potente – é prova viva de que, quando há espaço para escuta e construção conjunta, o ensino pode ir muito além da técnica: ele pode inspirar.
Seguir ensinando com AMOR é também uma forma de resistir ao tecnicismo vazio, ao ensino desumanizado e à produção acadêmica que não toca o mundo. É insistir que o conhecimento, quando compartilhado com generosidade, transforma. E que, entre o visível e o público, há sempre espaço para afeto, escuta e compromisso com uma educação que faz sentido.
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Imagem: Intofilm.org – Cena do filme Être at avoir (2002), do diretor Nicolas Philibert.
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Aline Brêtas de Menezes é doutora em Administração e mestre em Administração Pública pela Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas (FGV/EBAPE). Editora-chefe da Revista Tecnológica de Administração (FGV RETA), sua pesquisa se concentra em geração de valor público, com especial interesse no desempenho de parcerias entre governos e organizações da sociedade civil. Para mais detalhes, vide http://lattes.cnpq.br/1671174414722847