ENTRE O VISÍVEL E O PÚBLICO - Imagens que contam (e escondem) histórias: diversidade na comunicação pública digital. Por Aline Brêtas.

A representação da diversidade na comunicação institucional do governo não é apenas uma questão estética ou simbólica; é um termômetro da inclusão e um espelho da sociedade que queremos construir. No entanto, o que revelam as imagens publicadas nos perfis oficiais do Instagram de órgãos do governo federal?

Foi essa a pergunta que orientou nossa pesquisa, publicada no livro “Diversidade, equidade e inclusão: temas em debate”. Analisamos 1.824 representações humanas postadas entre 2019 e 2023 nos perfis oficiais do Instagram do Ministério da Saúde, Ministério da Fazenda e da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (SECOM), com foco em marcadores de diversidade como raça/cor, gênero, idade, deficiência, orientação sexual e interseccionalidade.

O que (não) aparece nas imagens

Os resultados evidenciam a sub-representação sistemática de diversos grupos sociais. Pessoas negras, embora representem 55,9% da população brasileira, aparecem em apenas 42% das imagens. Pessoas com deficiência (8,9% da população) são retratadas em 1,5% das imagens. E a comunidade LGBTQIAPN+, estimada em 12% da população, tem presença irrisória: 0,6%.

A análise interseccional também revela um padrão persistente: a predominância de homens e mulheres brancas nas imagens. Ainda que as mulheres tenham sido representadas com maior frequência (61,5%), as mulheres negras permanecem sub-representadas.

Esses dados confirmam que, mesmo com discursos institucionais sobre inclusão, a comunicação pública segue reproduzindo padrões hegemônicos, mantendo a branquitude e a heteronormatividade como normativas visuais.

A comunicação como política pública

Comunicar é também governar. E, quando falamos em comunicação pública, falamos da responsabilidade do Estado em construir narrativas que representem com justiça e equidade a pluralidade social. Representações visuais têm impacto direto na forma como cidadãos se veem (ou não) refletidos nas instituições. Elas moldam pertencimento, legitimidade e expectativas.

A ausência ou “tokenização” de determinados grupos não é neutra. Ela reforça estereótipos, limita possibilidades de reconhecimento e perpetua desigualdades históricas.

O que pode mudar

A boa notícia é que esse cenário pode ser transformado. O primeiro passo é reconhecer que a comunicação institucional é um campo estratégico para a promoção da diversidade. É preciso revisitar os bancos de imagens, diversificar os rostos que ilustram campanhas, envolver profissionais diversos nas equipes de comunicação e, sobretudo, adotar diretrizes claras de representação inclusiva.

Nosso estudo não aponta apenas as falhas; ele oferece subsídios empíricos para gestores, comunicadores e formuladores de políticas públicas refletirem sobre o papel da comunicação na construção de uma democracia mais inclusiva.

No Instagram institucional, cada imagem conta uma história. Cabe a nós decidir quais histórias queremos contar e quem queremos incluir nelas.

Fonte: DIAS, L. A., DIAS, LUCAS; MENEZES, ALINE BRÊTAS. Imagens que falam: uma análise da representação da diversidade nos perfis institucionais do Instagram do Governo Federal. In: Lucia Barbosa de Oliveira; Ricardo dos Santos Dias; Irene Raguenet Troccoli. (Org.). Diversidade, equidade e inclusão: temas em debate. 1a. ed. Bauru: Gradus Editora, 2024, v. 1, p. 9-23.

Aline Brêtas de Menezes é doutora em Administração e mestre em Administração Pública pela Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas (FGV/EBAPE). Editora-chefe da Revista Tecnológica de Administração (FGV RETA), sua pesquisa se concentra em geração de valor público, com especial interesse no desempenho de parcerias entre governos e organizações da sociedade civil. Para mais detalhes, vide http://lattes.cnpq.br/1671174414722847