Hoje em dia, há ferramentas de inteligência artificial (IA) voltadas a quase qualquer atividade: apresentações, conteúdo, design, edição de fotos e vídeos, investigação, marketing, negócios, organização, produtividade, texto para voz, voz para texto, websites… Mas será que estamos sabendo usá-las a nosso favor? Ou estamos virando reféns de toda essa agilidade e facilidade oferecida?
Ainda tabu para muitos profissionais de diferentes áreas de atuação, as ferramentas de IA são vistas com desconfiança por uns ao mesmo tempo que já são consideradas essenciais por outros. Mas, há pouco tempo, vivíamos muito bem sem elas, lembram disso? Assim como sem smartphones, redes sociais e outras facilidades tecnológicas.
Não que eu seja contra essa evolução, muito pelo contrário. Não vejo como algo ruim ou uma ameaça – pelo menos por enquanto -, mas também busco não depender disso para me manter atualizada e competente às minhas funções. Considero que a principal falha do ser humano, e não apenas no âmbito profissional, mas no pessoal também, é se colocar em segundo plano e se desvalorizar tão rapidamente frente aos avanços e transformações da tecnologia.
Vejo seguidamente as pessoas dizerem ter resolvido em questão de minutos tarefas de trabalho que, antes, demandavam muito mais tempo e dedicação. Sim, a IA veio para agilizar e facilitar o dia a dia. Entretanto, acho preocupante quando escuto – talvez apenas por força de expressão, prefiro acreditar nisso – que “a IA entregou tudo pronto” ou “sem nenhuma necessidade de ajuste”. Como é?
Fica difícil acreditar que profissionais renunciem a todo o conhecimento e habilidade adquiridos ao longo de tantos anos de estudos, experiências e pesquisas para simplesmente demandarem atividades para robôs executarem e confiarem que esse é o melhor resultado que podem entregar. Não por falta de capacidade, o maior exercício que fazem é “Ctrl+C” e “Ctrl+V”? Sério mesmo?
Não é à toa que o tema vem sendo objeto de tantos estudos. Um dos mais recentes, intitulado “O impacto da IA generativa no pensamento crítico”, desenvolvido pela Microsoft e pela Universidade Carnegie Mellon, concluiu que o uso da inteligência artificial generativa (GenIA) pode afetar o pensamento crítico e que “usadas de forma inadequada, as tecnologias podem e resultam na deterioração das faculdades cognitivas que deviam ser preservadas”.
De acordo com os pesquisadores, “os dados mostram uma mudança no esforço cognitivo à medida que os trabalhadores passam cada vez mais da execução de tarefas para a supervisão do trabalho realizado pela IA” e isso “levanta preocupações sobre a dependência de longo prazo e a diminuição da resolução independente de problemas”. Além de condicionar o pensamento crítico, o uso de IA pode prejudicar a criatividade dos profissionais e levá-los a produzir um conjunto menos diversificado de resultados para a mesma tarefa em comparação àqueles que confiam mais nas suas próprias capacidades.
Por isso é tão importante que a IA seja vista como um meio, e não um fim. Um instrumento auxiliar, uma ferramenta de colaboração. O profissional não deve se limitar a entregar o que a IA é capaz de fazer por ele, nem mesmo sob pressão. Isso equivale a dizer que a IA pode substituí-lo e que, portanto, tornou-se dispensável.
A IA é uma aliada, não o tão desejado clone para desenvolver suas atividades. Ela depende de você para orientá-la e treiná-la. Depende da sua capacidade e técnica para instruí-la para as atividades propostas. A excelência está no profissional, não na máquina. Tanto é que ela foi desenvolvida por seres humanos, e não o contrário. Não seja mais um a inverter esses papéis. A própria IA já sabe identificar se um trabalho é realmente autoral ou fruto de IA.
Treine seu cérebro. Confie no seu potencial e intelecto. Seja o verdadeiro autor do seu trabalho. Não abra mão de ser original, criativo, proprietário das suas ideias e entregas. Se deixarmos de pensar, o que irá nos restar?
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Imagem criada por IA (Freepik).
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Cristina Rispoli d’Azevedo é graduada em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e especialista em Gestão Estratégica da Comunicação pelo Instituto Brasileiro de Gestão de Negócios (IBGEN). Apaixonada por contar histórias e leitora voraz, é uma comunicadora empreendedora que atua como assessora de imprensa, produtora de conteúdo, redatora e correspondente em Portugal.