EFEITO RP - Passeios que orquestram a nossa vida. Por Bárbara Calixto.

Eu sempre gostei muito de ficar em casa. Gosto de ler, ver seriados, escrever e cozinhar. Desde pequena eu sou assim, mais “caseira”. Até demorei bastante para começar a sair e confraternizar com os amigos. Mas, em contrapartida, sempre apreciei outros passeios, aqueles mais culturais e até de vagar pelos lugares, conhecer novas pessoas, sabores e experiências.

Por volta dos meus 9 anos, a minha tia me deu uma câmera fotográfica (daquelas que ainda vinham com filmes, lembra?) e isso mudou a minha vida. Apesar de não saber enquadrar e nem dar foco corretamente, eu gostava muito de toda a experiência que existia ali. O que eu mais apreciava, além de registrar momentos e memórias preciosas, era de apurar o meu olhar sobre as coisas, de descobrir os detalhes.

Isso é um presente que eu carrego até hoje.

Eu gosto muito da minha casa, mas gosto muito de sair e desbravar novas ruas e mundos. Acho incrível como um simples dobrar de esquina pode apresentar tanta coisa formidável: uma árvore florida, um prédio de arquitetura incrível, um artista de rua, um grafite em uma parede ou, então, uma frase de efeito que pode transformar a vida.

Manter o olhar atento para cada uma dessas pequenas grandes oportunidades muda completamente a nossa visão de mundo. É preciso estar atento e se arriscar a apurar os nossos olhares.

Ter esse olhar atento me permite viver e sentir outras coisas, como o que vivi recentemente ao assistir a uma orquestra da minha cidade local. Enquanto eu me sentia em paz por ouvir as músicas, achando lindo a forma como todas as pessoas estavam em sincronia com a melodia, também tive um insight. Em determinado momento, todos os integrantes da orquestra pararam de tocar e apenas um rapaz seguiu tocando o seu instrumento. Ele fez o famoso “solo”. Em seguida, todos continuaram a música e, um outro garoto, ficou tocando um instrumento que parecia ser muito pequeno perto dos tambores e tubas, mas que tinha um som sereno e acompanhava perfeitamente o ritmo.

Enquanto eu ouvia isso, fiquei pensando na importância das pessoas estarem em sincronia e como um instrumento pequeno e simples faz tanta diferença na harmonia final.

O maestro que estava conduzindo a orquestra era extremamente simpático. A cada duas músicas, fazia uma reverência para o público e também contextualizava as próximas músicas a serem tocadas. Ao final, quando todo o repertório já havia sido contemplado, ele se juntou aos outros músicos, ficando ao lado deles – e não à frente.

Para mim, toda essa experiência foi uma verdadeira mistura entre atenção plena e desfrute, com uma aula de liderança. O maestro conduzia com muita leveza e tranquilidade todos os instrumentistas. Ali, cada um sabia o seu papel. Cada um sabia o que e como fazer ao menor gesto do maestro. Todos sorriam, estavam se divertindo no percurso das partituras. Cada pessoa, com o seu instrumento na mão (ou na boca), sabia qual movimento deveria ser feito para que a nota correta entrasse no momento ideal da música. Todos estavam treinados, sabiam como conduzir, como apresentar, como dar um show.

E o maestro foi um dos responsáveis por tudo isso acontecer. Antes, nos ensaios, ensinou, orientou e mostrou o que cada um deveria fazer e em qual momento, para no final, direcionar e acompanhar o trabalho dos instrumentistas.

Não é assim também que deveria funcionar uma empresa?

Os líderes ensinando, orientando e conduzindo os liderados, para que cada um saiba tocar o seu próprio instrumento? Para que cada um tenha recursos e condições necessárias para exercer o melhor que puder e fazer a entrada na hora exata da nota, deixando a melodia ainda mais agradável? Permitir que cada instrumentista seja valorizado pela sua dedicação, especialmente por compor e agregar nas minúcias da melodia?

Imagino toda essa orquestra acontecendo dentro de uma empresa. E também imagino algumas atividades – que muitas vezes são consideradas mais simplórias e sem valor, assim como o instrumento que é menor do que a tuba, por exemplo -, agregando tanto na sinfonia final.

Quando pensamos em ferramentas da comunicação, por exemplo, nem sempre as mídias sociais são valorizadas da forma como deveriam. Muitas vezes são compreendidas como “perda de tempo” quando comparadas ao desenvolvimento de um produto. Mas quando olhamos os detalhes, conseguimos compreender que os posts também são formas de posicionamento de marca, em como demonstrar seus pilares, missão, visão, sua conduta e demais razões da sua existência.

Assim como o rapaz na orquestra, que toca um instrumento menor – comparado com a tuba -, algumas atividades e atribuições dos comunicadores podem ser consideradas triviais – em relação a outras funções -, mas todas possuem extrema importância na construção da melodia final.

Como anda a sua orquestra? Como você tem conduzido os músicos? Ou então, como tem valorizado cada instrumento e instrumentista para a execução da melodia em harmonia? Você tem apurado o seu olhar, regularmente, para cada um dos detalhes do seu dia?

Bárbara Calixto é graduada em Relações Públicas pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e possui MBA em Marketing pela USP/Esalq. Atualmente, desempenha a função de Analista de Marketing em uma Govtech (Portabilis) e já trabalhou em agências de comunicação, no segmento varejista e indústrias. Além disso, é uma pessoa que ama cozinhar, apreciar a natureza e está sempre disponível para uma boa conversa.