EFEITO RP - O óbvio precisa ser dito. Por Bárbara Calixto.

Na minha primeira coluna me apresentei e agora estou aqui me alongando para dialogar com vocês. Vamos lá?

Decidi começar pelo óbvio que precisa ser dito: a comunicação é inerente para todos os seres humanos e isso não é novidade para ninguém, mas será que nós repensamos e analisamos seu uso no nosso dia a dia? Como relações-públicas, desde a época da faculdade, fui ensinada a pensar em formas de me comunicar, encontrar os canais ideais, pensar no tipo de público que iria receber aquela informação, qual seria a melhor maneira de transmitir a mensagem e até em como receber o feedback da ação. Tudo sempre com propósito e com a consciência de que a comunicação é uma via de mão dupla.

Nada incomum até aqui. Porém, confesso para vocês: percebi que em algum lugar desse caminho acabei me perdendo. Não propositalmente, claro, mas talvez por ser levada pela rotina e ser consumida por uma outra dinâmica ou, também, por ter me acostumado a repetir várias vezes a mesma informação e estabelecer diálogos infinitos até ser compreendida. Ah… suspeito também da tecnologia, que facilitou a nossa vida em muitos aspectos, mas em outros nos acomodou. Vai um áudio de 5 minutos no WhatsApp aí? Um SMS personalizado para o seu CPF? Ou uma newsletter com o seu nome no assunto do e-mail?

De qualquer forma, desde que notei essa minha “falha”, passei a me atentar e ampliar o meu olhar para a forma de me comunicar, questionando mais, tentando observar melhor os contextos e também a consumir conteúdos diversos. E esse exercício tem sido fundamental para o meu crescimento profissional. Além de adicionar uma dose de maturidade, autoconhecimento e inteligência emocional à bagagem pessoal e profissional, também passei a assimilar melhor os diferentes formatos e linguagens dos meios de comunicação, especialmente depois que comecei a trabalhar remotamente em tempo integral. Percebo que quanto mais estudo e absorvo contextos sobre a comunicação não-violenta, formas de dar um feedback e também de como expressar de maneira mais assertiva os meus próprios sentimentos e sensações, mais eu consigo transmitir o que eu realmente gostaria.

Recentemente, ao planejar uma atividade com um colega de trabalho, fiquei bastante surpresa com a pergunta que ele me fez. Na ação, estávamos acordando um prazo para a entrega de uma atividade, já havíamos estabelecido o que era de responsabilidade dele, o que era minha e faltava apenas a data. Eu, habitualmente propus: “até segunda, pode ser?”. Ele, para ter certeza de que havia compreendido a mensagem, perguntou: “até segunda, é segunda 23:59 h ou domingo 23:59 h?”.

Quando eu li, fiquei indignada pensando em como, por muitas vezes, usei essa mesma frase sem perceber as possibilidades de interpretação que haviam ali! Até segunda = qualquer dia até que se inicie a segunda-feira, ou seja, até domingo 23:59 h; ou até o último minuto da segunda-feira, às 23:59 h.

Por mais simples que pareça ser, essa mensagem poderia ter sido evitada e a comunicação sido mais assertiva se: (1) eu tivesse me atentado com o público em que eu estava falando, no caso, esse colega é um desenvolvedor/programador de sistemas, então a forma como ele consome e organiza a informação é completamente diferente da minha; (2) se eu tivesse, inicialmente, lembrado que estava utilizando um canal de troca de mensagens objetivas e instantâneas – um chat do trabalho -, e também poderia ter direcionado a data e a hora que precisaria daquela atividade finalizada.

Assim como quando executamos um planejamento que possui uma fase para analisar ou, então, quando vamos para uma sessão de terapia e falamos profundamente sobre um tema – cumprindo o objetivo da análise -, deixo um convite e sugestão para aplicarmos isso em nossas rotinas de comunicação: vamos de análise? Ter mais cuidado, compaixão, calma, compreensão e atenção. Afinal, um dos objetivos dos comunicadores é evitar ruídos.

Convido vocês para uma roda de conversa: o que mais podemos fazer para melhorarmos e sermos mais assertivos com nossa comunicação?

Bárbara Calixto é graduada em Relações Públicas pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e possui MBA em Marketing pela USP/Esalq. Atualmente, desempenha a função de Analista de Marketing em uma Govtech (Portabilis) e já trabalhou em agências de comunicação, no segmento varejista e indústrias. Além disso, é uma pessoa que ama cozinhar, apreciar a natureza e está sempre disponível para uma boa conversa.