EFEITO RP - Crise nossa de cada dia. Por Bárbara Calixto.

Eu sempre penso em questões sem respostas e às vezes profundas. De tempo em tempo volto para elas, vejo se descobri algo e, caso não tenha encontrado nada ainda, as guardo de novo para um outro momento.  

Deixo uma pergunta aqui para vocês, já de começo de conversa: quantas crises nós vivemos em uma vida? 

Não sei para vocês, mas as minhas são incontáveis! 

Mas vamos lá, calma. Não estou falando aqui das crises que temos nos nossos relacionamentos, na nossa terapia ou em alguns dilemas pessoais. Ou estava? De qualquer forma, agora invoco o meu lado comunicadora e trago o pensamento para as crises que temos no nosso ambiente de trabalho. Essas crises também se apresentam em um outro nível, que são as que tanto somos ensinadas a gerenciar quando estamos na graduação de Relações Públicas. 

Me recordo que enquanto ainda estava estudando, na graduação, falava para uma amiga mais próxima que eu gostaria muito de gerenciar uma crise. Na época, eu acreditava que isso seria fantástico. Sempre vislumbrava o estereótipo de uma mulher empresária, trajando um terninho e salto alto, conduzindo uma reunião, direcionando o trabalho de várias pessoas, chamando o assessor de imprensa e redigindo a carta oficial que mais tarde seria lida pelo presidente da empresa. Essa era a minha visão, a forma como eu acreditava que as coisas aconteceriam, como as pessoas se comportam diante de uma crise. 

Mas, nós sabemos que não há nada de muito charmoso em uma crise, seja ela de qual tipo for. Exceto quando ela acaba. 

A primeira crise que eu vivi, eu ainda era estagiária. Lembro que não era tão grande e nem tão problemática – não ocasionaria demissão, mas poderia influenciar na imagem da empresa -, eu senti medo e insegurança. No final, os “adultos” e os “responsáveis” pelas ações conduziram a crise e ficou tudo bem. Depois dessa vivi muitas outras: crises com funcionários, de imagem, reputação, financeira e com clientes.

Foi em uma dessas crises que passei, que eu mais aprendi sobre gerenciamento e cultura organizacional. Quando eu entrei p’ra trabalhar, a manhã parecia calma e eu não estava usando o terninho que via nas minhas visões de anos atrás. Achei que seria um dia como outro qualquer, mas fui acionada para ajudar a conduzir a crise. Senti um mix de emoções:, uma espécie de euforia, com “por onde começar?” e uma pitada de “considere resolvido”, de Olivia Pope, em Scandal

O meu primeiro passo foi entender melhor o que estava acontecendo: quem eram os envolvidos? O que tinha acontecido? Quem descobriu? Qual o dano? Quantas pessoas foram impactadas? O problema já tinha sido resolvido?

Com as respostas em mãos, precisava começar a agir. Direcionar os caminhos, entender por onde poderíamos ir – enquanto time -, e qual a melhor forma de orientar os envolvidos e as pessoas que haviam sido impactadas. Não havia manual que pudesse ajudar naquele momento, apenas pessoas. E  foi com essas pessoas que nós seguimos e conduzimos a crise, com total satisfação e sem impacto negativo. 

Depois de ter experienciado isso, ao contrário do que todos os manuais de gerenciamento de crise pregam, ou todos os “passo a passo” disponíveis na internet, eu pude perceber alguns pontos que – acredito – sejam cruciais para um bom gerenciamento de crise: 

  • Tenha pessoas engajadas e comprometidas no seu time; 
  • Confie no trabalho dessas pessoas; 
  • Esteja disponível o tempo todo e sempre pergunte a opinião dos integrantes do seu time sobre o ocorrido;
  • Esteja aberta para o processo;
  • Divida a responsabilidade das ações com outros membros do time; 
  • Provavelmente você não saberá todos os detalhes e informações, então, questione, questione e questione novamente;
  • Encontrar o “culpado” pela crise não ajuda a resolvê-la; 
  • Enquanto empresa, assuma a responsabilidade pelo ocorrido – se realmente a responsabilidade for sua -, e deixe o mais transparente possível o que ocasionou; 
  • Tenha dados e datas. Se você for enviar um comunicado à imprensa, por exemplo, combine um prazo máximo para que isso seja feito, assim você evita mais ruídos na comunicação;
  • A cultura da empresa se mostra nessas horas, quando os profissionais envolvidos conseguem se organizar sem depender exclusivamente de uma pessoa – ou do aval do dono, em muitos casos.

As crises são sempre diferentes umas das outras, então, nem sempre o “manual” padrão vai conseguir te ajudar. Por isso é tão relevante se concentrar no que você constrói todos os dias com a sua equipe. Porque quando ela acontecer – sim, vai acontecer -, a sua equipe estará preparada para lidar, mesmo que seja um cenário totalmente desconhecido, como foi no começo da pandemia. 

Um time que esteja conciso sabe como se posicionar, as pessoas acreditam e confiam no trabalho uma das outras e entendem a importância de cada atividade, prontas para se dedicar àquilo. 

E quando a crise acontecer, lembre-se: tenha calma, porque é possível resolvê-la! 

Um brinde às nossas crises do dia a dia! 

Bárbara Calixto é graduada em Relações Públicas pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e possui MBA em Marketing pela USP/Esalq. Atualmente, desempenha a função de Analista de Marketing em uma Govtech (Portabilis) e já trabalhou em agências de comunicação, no segmento varejista e indústrias. Além disso, é uma pessoa que ama cozinhar, apreciar a natureza e está sempre disponível para uma boa conversa.