Conhecido como Quino, o argentino Joaquín Salvador Lavada virou referência no mundo dos quadrinhos com sua personagem Mafalda. Aliás, não só no mundo dos quadrinhos. A menininha questionadora criou vida própria, foi traduzida para mais de 30 idiomas e mesmo tendo nascido em 1964, com sua primeira publicação na revista argentina Primeira Plana, suas tirinhas parecem sempre atuais.
Aliás, um detalhe que pouca gente conhece é que, na verdade, a primeira versão de Mafalda, de 1962, foi pensada para uma campanha publicitária de uma empresa de eletrodomésticos que queria uma personagem que começasse com a letra M, a mesma da marca. A ideia era que fossem criadas tirinhas para jornais, com personagens infantis, que divulgassem subliminarmente os produtos da empresa. Mas alguma coisa deu errado e o projeto não foi para a frente.
Cá para nós, vocês conseguem imaginar Mafalda fazendo propaganda subliminar de alguma coisa? Logo ela?
Através de Mafalda e sua turma, Quino nos estimulou a questionar a mídia, a publicidade e a propaganda; com suas tirinhas instigou reflexões sobre os valores da sociedade, preconceitos, más notícias constantes dos meios de comunicação, o mundo globalizado e capitalista e o contexto pós-guerra fria. Nos fez questionar nossa atitude diante de um planeta adoentado pelos maus tratos ambientais, sociais e pela falta da garantia de direitos.
Mafalda falou sobre autoritarismo, família e sobre os papeis masculinos e femininos, especialmente em seus diálogos com Susanita e seus amigos. Suas conversas com Manuelito nos fizeram refletir sobre o valor do trabalho, do tempo, da vida e do dinheiro. E a escola também foi cenário e tema de várias tirinhas, deixando a professora, por vezes, sem respostas diante da inquietação e dos questionamentos genuínos dessa turma.
Maior criação de Quino, a personagem é até hoje o desenho latino-americano mais vendido para diversos fins, e esteve em produção até 1973. Durante esse período, a obra de Mafalda se tornou tão grande que fugiu do autor, se tornou do mundo e nunca mais desapareceu.
Parece mais atual do que nunca, não sendo difícil encontrá-la em livros didáticos, provas, concursos, apresentações de cursos e palestras (sem falar em canecas, calendários, quadros, bonecas e toda uma gama de franquias que faz a loucura dos colecionadores e fãs da personagem). Um material riquíssimo para a formação cidadã de crianças e adolescentes, para ser usado em sala de aula e em casa como material de leitura, entretenimento e alfabetização midiática e informacional de toda a família e comunidade escolar.
Em homenagem a Quino, que morreu no último dia 30 de setembro, aos 88 anos, a Associação dos Cartunistas do Brasil organizou uma exposição virtual que conta com Maurício de Souza, Laerte, Ique, Baptistão e Chico Scarpini, entre os mais de 50 artistas na mostra ‘O Nosso Quino’. LINK – https://www.correiobraziliense.com.br/diversao-e-arte/2020/10/4879551-exposicao-virtual-reune-ilustracoes-em-homenagem-ao-cartunista-quino.html9.
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Cristiane Parente é jornalista com trabalhos em Impresso, TV e redes sociais. É consultora em Projetos de Comunicação, Educação e literacia midiática/educação para a mídia/educomunicação. É membro do Comitê Internacional MIL Clicks em Português, da Unesco, Governo da Suécia e ZeitGeist. Doutora em Comunicação e investigadora do Centro de Estudos em Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho (Braga/Portugal); Mestre em Educação, Tecnologias e Comunicação pela Universidade de Brasília (UNB); Mestre em Comunicação e Educação pela Universidade Autônoma de Barcelona; Especialização em Teorias da Comunicação e da Imagem UFC/UFRJ.