DNA DE MARCA - Patrocínio: risco ou oportunidade?

O Flow Podcast, um conhecido programa – pois que dos mais ouvidos e rentáveis do Brasil -, no último mês ficou no centro das atenções depois que um dos seus apresentadores, Bruno Aiub, conhecido como Monark, fez comentários polêmicos sobre liberdade de expressão em seu Twitter.

Monark escreveu a seguinte pergunta: “Ter uma opinião racista é crime?”, depois de já ter dado opinião sobre censura. Após os comentários, internautas pediram que as marcas se manifestassem sobre as opiniões do apresentador e interviessem, pois o Flow Podcast é patrocinado por diversas empresas fortes no país.

Perante a repercussão, um dos maiores patrocinadores do programa, iFood, anunciou que retiraria seu patrocínio do programa. Em nota, a empresa escreveu:  “O propósito do iFood é alimentar o futuro do mundo promovendo mudanças e impactando positivamente a sociedade, por isso, estamos encerrando a nossa relação comercial com o Flow. Acreditamos que não é mais possivel ser parte de uma sociedade desigual, por isso repudiamos qualquer tipo de preconceito ou ato de discriminação. A empresa assumiu compromisso público de ser protagonista na promoção de mudanças urgentes que favoreçam a diversidade e a inclusão”.

A marca teve uma atitude inteligente ao se posicionar contra Monark que apresentou falas racistas nas redes sociais, dessa forma o iFood conseguiu chamar a atenção do público para a empresa e lembrar qual o seu posicionamento, mas algumas pessoas perceberam que a nota divulgada pela marca foi um pouco contraditória, visto que os aplicativos de delivery possuem um grande problema com os entregadores – que trabalham muitas horas e não recebem um salário justo nem têm direitos trabalhistas… Então, dizer que “acreditam que não é mais possível ser parte de uma sociedade desigual e que querem mudanças que favorecem a inclusão” pareceu hipocrisia.

Os novos consumidores estão de olho nas empresas que não são coerentes. Não adianta pedir ajuda para o setor de comunicação criar uma imagem distorcida da marca, pois, se não há discurso alinhado com as atitudes, há grandes chances do cancelamento estar próximo.

O patrocínio é uma ótima estratégia, desde que os patrocinados estejam alinhados com a visão da empresa patrocinadora. Não basta apenas selecioná-los com base no alcance e na audiência. Além disso, uma análise de riscos é fundamental.

Maria Gabriela Tosin é graduada em Relações Públicas pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) e especialista em Mídias Digitais pela Universidade Positivo. É criadora do blog pippoca.com, atuou como pesquisadora na área de artes e mídias digitais e no momento atua em agências de publicidade e é colaboradora em diversos blogs.