Tragédias fazem parte do nosso cotidiano, seja na nossa cidade ou em outro país. Estamos sempre atentos aos problemas, às catástrofes e às desgraças que acontecem no mundo. Sempre que possível enviamos mensagens de apoio por meio das redes sociais, na esperança que as pessoas afetadas se sintam melhor. Nesse momento, profissionais de comunicação se perguntam: – O que as marcas fazem nessa situação?
Muitos profissionais defendem que diante de uma tragédia a marca deve se manter calada ou demonstrar solidariedade. Mas não é exatamente isso o que algumas marcas andam fazendo, e muitas delas cometem erros graves na hora de se pronunciar sobre um triste fato.
A marca Jendayi Cosméticos usou uma mistura de solidariedade com publicidade que no final teve um resultado nada positivo. A marca utilizou da tragédia do rompimento da barragem de rejeitos de mineração de Brumadinho para produzir uma ação publicitária com o slogan ‘A dor também é nossa!’, e utilizou modelos para interpretar as vítimas da tragédia, o que deixou a campanha com cara de deboche. O resultado foi uma enxurrada de comentários negativos e a exclusão das redes sociais da marca.
Para dar um exemplo mais atual sobre o assunto, trago a ótima estratégia utilizada pela Disney diante do incêndio que afetou a Catedral de Notre-Dame no dia 15 de abril.
Sabemos que a reconstrução da Catedral custará milhões de euros, mas esse não será um problema, pois dois dias depois da tragédia as doações já somavam mais de 800 milhões de euros. Entre os doadores estavam as empresas: Kering, que controla a grife Gucci, a família Arnault, donos da marca Louis Vuitton, a empresa francesa L’Oreal e também a Disney.
O que mais me chamou a atenção foram os comunicados divulgados pelas marcas após anunciarem suas doações. O presidente da Louis Vuitton, Francois-Henri Pinault, parecia estar falando em um comercial para um dos seus produtos: ‘Diante desta tragédia, todos desejam trazer essa joia de nossa herança de volta à vida o mais rápido possível’.
Já a Disney anunciou a doação de 5 milhões de dólares para a reconstrução da Catedral de Notre-Dame, cenário de sua animação de 1996, ‘O Corcunda de Notre-Dame’. Em nota, o CEO da Disney Bob Iger disse: ‘Notre-Dame é um farol de esperança e beleza que definiu o coração de Paris e a alma da França durante séculos, inspirando admiração e reverência por sua arte e arquitetura e seu lugar duradouro na história da humanidade’.
Diversas imagens do Corcunda de Notre-Dame em lágrimas tomaram conta das redes sociais na semana da tragédia. Além disso, o romance de Victor Hugo, conhecido como ‘O Corcunda de Notre-Dame’, liderou as vendas na Amazon França um dia depois do incêndio.
Querendo ou não, a Disney foi incluída nesse enredo. Apesar de não ter manifestado imediatamente, suas opções se reduziram a apenas uma: demonstrar solidariedade. O resultado dessa estratégia foi uma grande quantidade de manchetes que falavam sobre as doações realizadas pela marca, além de notícias que relembravam o filme lançado em 1996, ofuscando assim a doação de tantas outras empresas famosas e poderosas.
Podemos dizer que, no meio de uma tragédia você deve apenas observar tudo o que está acontecendo ao seu redor, só depois disso você deve tomar uma decisão. Caso contrário, permaneça calado.
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Maria Gabriela Tosin é graduada em Relações Públicas pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). Cursa especialização em Mídias Digitais na Universidade Positivo. Atuou como pesquisadora na área de artes e mídias digitais. Atua como produtora de conteúdo na agência Seward Comunicação Integrada.