Uma das primeiras medidas de Michel Temer, ao tomar posse na Presidência, foi extinguir o Ministério do Desenvolvimento Agrário, fortaleza dos petistas ligados a movimentos como MST e a militantes como João Pedro Stedile. Mas Temer está voltando atrás: deve recriar o MDA em setembro, igual ao que era – sem sequer uma placa de Sob Nova Direção.
Temer assumiu propondo cortes de despesa. Mas aprovou quase 200 bilhões em aumentos salariais. A proibição de aumento de salários nos Estados beneficiados pela renegociação de dívidas com a União, que o ministro Meirelles dizia ser inegociável, já foi negociada. Aquele déficit insuportável no Orçamento de Dilma, de R$ 170,5 bilhões, que Temer tinha a missão de cortar, já atingiu agora, em agosto, pouco menos de R$ 170 bilhões. Até dezembro, a que quantia chegará?
A situação melhorou de Dilma pra cá. A Petrobras, livre da ordenha, deu lucro no trimestre – nada sensacional, mas melhor que o prejuízo dos três trimestres anteriores. Mas o que melhorou teve como causa a saída de Dilma, não a entrada de Temer. O presidente em exercício hesita na hora de agir com firmeza; aceita a situação político-econômica como se fosse boa.
Temer é mais aceitável que Dilma. É afável, não trata subordinados a palavrões, conhece mesóclises, fala um Português impecável. Mas falta-lhe decisão.
E o povo não foi para as ruas por querer uma Dilma bem-educada.
Ação, ação
O presidente Temer recebeu na quinta-feira alguns pesos-pesados do empresariado: Carlos Alberto Sicupira (AmBev), Edson de Godoy Bueno (Amil), Josué Gomes da Silva (Coteminas), Carlos Jereissati (Jereissati), Jorge Gerdau (Gerdau), Luiz Carlos Trabuco (Bradesco), Pedro Moreira Salles (Itaú-Unibanco), Pedro Passos (Natura); antes, tinha recebido Paulo Skaf e Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, presidentes das federações das indústrias de São Paulo e Rio.
Todos disseram algo parecido: que a indústria está perdendo as esperanças. Lembraram que, no mundo, há US$ 15 trilhões guardados que pagam juros em vez de recebê-los, e uma parte poderia vir para o Brasil se houvesse boas perspectivas. Temer prometeu estudar o assunto. Mas promessa de Temer é como “La garantía soy yo”.
Dois desvios
Há quem atribua os recuos de Temer à má negociação. Nem Temer nem Meirelles saberiam negociar como se deve, e Eliseu Padilha deveria receber a missão. Outros acham que Meirelles e Temer sonham em candidatar-se à Presidência em 2018. E qual o cacique político que, sem negociar, daria apoio a um possível adversário futuro? Ambos teriam de dar garantias de que não seriam candidatos – por exemplo, deixando seus partidos.
Um país como este
Em outros tempos era uma piada: a do rapaz, preso por assassínio do pai e da mãe, pedindo autorização ao juiz para sair e ir ao Baile de Órfãos. Já não é mais piada: Suzane von Richthofen, condenada a 39 anos por assassínio dos pais, saiu da cadeia no dia 11 para comemorar o Dia dos Pais. Suzane pediu para sair apesar de sua frustração anterior, quando deixou a prisão para o Dia das Mães e não teve com quem comemorar.
Em tempo: o benefício pode parecer estranho, mas é totalmente legal.
Michel olímpico
Do presidente Michel Temer, comentando a morte de um policial da Força Nacional, no Rio: “Foi um lamentável acidente (…) o ritmo das Olimpíadas não fica paralisado por isso (…)”.
O presidente que nos desculpe, mas a morte de um ser humano nada tem a ver com o prosseguimento das Olimpíadas. Este colunista é do tempo em que deliberadamente matar alguém a tiros se chamava “assassínio”, não “acidente”. O ritmo a seguir era localizar, prender e julgar o atirador.
Vai que é mole
Escolher 12 de setembro como data para a Câmara julgar Eduardo Cunha é golpe baixo. Segunda-feira é um dos dias em que o Congresso normalmente não funciona. Sempre há alguns deputados por lá – mas quem estiver irá à posse da ministra Carmen Lúcia na presidência do Supremo Tribunal Federal. E, para cassar Cunha, são precisos 257 votos. Um plenário vazio beneficia Sua Excelência. Se houver pedido de adiamento da sessão, dia 13 não adianta: é dia de plenário vazio. Aí começa o recesso por causa das eleições. E o julgamento de Cunha fica para novembro.
O nome do cargo
O presidente do Supremo, Ricardo Lewandowski, perguntou à sua sucessora, ministra Carmen Lúcia, se preferiria ser chamada de “presidente” ou “presidenta”. Carmen Lúcia: “Eu fui estudante e sou uma amante da Língua Portuguesa. Acho que o cargo é de presidente, né?”
Ainda bem: já pensaram aguentar uma nova presidenta?