DIGITAL INSIGHTS - Efeito placebo na comunicação. Por Nathália Meireles.

Em meio a tantas transformações digitais acontecendo simultaneamente, da Inteligência Artificial ao lançamento de novos consoles de videogame, acreditar em mudanças parece algo fácil, rápido e viável. Mas será que realmente as coisas funcionam dessa forma?

Na área da saúde, o “efeito placebo” é bem conhecido por profissionais como médicos, enfermeiros e nutricionistas, referindo-se a uma crença fortemente enraizada nas pessoas.

Por exemplo, sabe por que muita gente acredita que água com açúcar acalma? Não é porque o açúcar tenha algum poder mágico de tranquilizar. Na maioria das vezes, o que acontece é o efeito placebo.

O que é o efeito placebo?

Mas o que é esse fenômeno? Pense no efeito placebo assim: é quando algo que não deveria fazer efeito nenhum no seu corpo (como água com açúcar ou até um comprimido de farinha) te faz sentir melhor, simplesmente porque você acredita que vai funcionar.

É como se o seu cérebro fosse “enganado” de um jeito positivo. Se você está esperando que a água com açúcar te acalme, seu corpo pode realmente reagir a essa expectativa e você se sente mais calmo. Mas é a sua mente que está agindo, e não a bebida em si.

Resumindo: é simplesmente o nosso cérebro enganando o próprio corpo a fim de suprir uma expectativa criada por ele mesmo.

Segundo um estudo importante sobre o efeito placebo em pacientes com Parkinson, publicado no General Archives of Psychiatry, a simples crença de que se está recebendo um tratamento ativo pode levar o cérebro a liberar dopamina, um neurotransmissor essencial para aliviar os sintomas da doença. Observou-se que pacientes que acreditavam ter 75% de chance de receber a medicação (mas que, na verdade, receberam placebo) tiveram um aumento significativo na produção de dopamina, demonstrando o poder da expectativa na resposta fisiológica.

O placebo no comportamento de consumo

Diante disso, como o efeito placebo pode estar influenciando as ações de públicos-alvo na comunicação? O alicerce da ideia é “acreditar que vai funcionar”. Convertendo isto para o meio da comunicação e marketing, seria “acreditar que o produto que está no hype vai ser bom ou útil para a minha vida”.

O grande indício do efeito placebo nas pessoas é o forte desejo de se sentir pertencente a uma comunidade. O ser humano, em sua essência, é sociável e se desenvolveu participando de um grupo, seja familiar, de amigos, de interesses em comum ou de crenças partilhadas; em todos os casos, há um senso de pertencimento.

Por conta desse senso de pertencimento, o terreno se torna fértil para as marcas “empurrarem” produtos e serviços. E, devido à influência desse grupo de pertencimento ou de pessoas que trabalham com isso (influenciadores), o alicerce mencionado anteriormente se fortalece: acreditar que o produto X será útil, e não apenas mais um item na sua gaveta ou na pia do banheiro.

Influência e tendências futuras

E o que podemos perceber com esse movimento sorrateiro das grandes marcas com foco em vender e ganhar notoriedade? O quão facilmente influenciáveis as pessoas estão se tornando? Basta um lançamento de um gloss, um livro de colorir, um body splash com embalagem chamativa ou um chaveiro que chama a atenção por onde passa. Uma geração altamente influenciável.

Por isso, diante do exposto, é evidente que a compreensão do impacto do efeito placebo na comunicação e no marketing é essencial para entender o comportamento do consumidor. A vulnerabilidade a essa influência impulsionada pelo desejo de pertencimento e pela ascensão dos influenciadores, molda as tendências de consumo atuais. As grandes marcas exploram habilmente essa dinâmica, levando a uma geração cada vez mais influenciável. Tal cenário aponta para um futuro onde movimentos como o minimalismo e o “zero consumo excessivo”, ou até mesmo o Project Pan, podem ressurgir com força, redefinindo as relações das pessoas com o consumo e a publicidade.

Nathália Meireles é especialista em Marketing Digital, com foco em conteúdo direcionado para as áreas de Transformação Digital, Inovação e Marketing. Graduada pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR), cursa pós-graduação em Marketing Digital e Transformações Empresariais na Universidade Cruzeiro do Sul. Acredita que a escrita tem o propósito de estimular a geração de insights valiosos e contribuir para a sociedade. Além disso, é a mente por trás do blog Dig. Insights Hub, em que atua como criadora e escritora.