DHE - DESENVOLVIMENTO HUMANO NA EDUCAÇÃO: - Professor, ele já sabe ler e escrever? Por Viviane Cupello.

As dúvidas do processo de alfabetização!

Sou mãe e pedagoga. Essas minhas duas ‘vidas’ estão intrinsecamente ligadas pelo amor, propósito e missão de vida. Sendo mãe, sou professora. Sendo professora, exerço, também, meu lado materno.

No magistério, buscava entender a curiosidade dos alunos, o motivo de suas dificuldades na aprendizagem e a angústia dos pais nesse processo, principalmente na fase da alfabetização, série na qual lecionei por 10 anos.

Quanto mais eu estudava, mais me aproximava das três principais peças desse cenário: o professor (eu, no caso), o aluno e seus responsáveis. Essa etapa específica da escolarização requer cuidados, muita atenção, um nível quase zero de ansiedade (se é que é possível) e muita, muita, muita educação emocional.

Quando atendia os responsáveis, meu primeiro ponto era a escuta. Já nesse momento, encontrava parte da solução. Sim, porque algumas questões só necessitam de pequenos ajustes familiares ou na rotina.

E, nessa troca de informações, era importante que eu, enquanto escola, esclarecesse minhas observações sobre a criança, explicasse o processo que ela estava vivendo, o que eu estava orientando em sala e, empaticamente, ajudasse a família com as estratégias necessárias em casa. Isso tudo aliado a muita leitura e constante estudo para entender, cada vez mais, como ajudar meus alunos.

Uma das dificuldades que eu percebia era do entendimento dos pais quanto ao processo de escrita, o que era considerado ‘erro’ e o que era ‘parte do processo’.

Então, vamos lá para um pouquinho dessa explicação!

Ao compor as primeiras escritas, as crianças demonstram suas experiências, desejos, anseios e particularidades de aprendizado. Quando se trata da dificuldade da criança em começar a ler e a escrever, a ansiedade de ambos é grande, pais e filhos. Lidar com a comparação de desenvolvimento entre irmãos e primos nessa faixa etária ou entre os colegas da turma não é fácil. Mas devemos entender que cada criança tem seu tempo, os processos são individuais e dependem de fatores internos que, possivelmente, ainda estão em estágio de amadurecimento.

Quando olhamos com mais atenção para essa individualidade dentro do grupo e à coletividade no indivíduo, essas dificuldades na alfabetização tendem a se diluir e tornam-se mais visíveis para acompanhamento. Aliada a essa visão parceira entre família e escola, é importante entendermos que a escrita em si não depende somente de ato biológico, mas de uma grande estrutura que provém do sistema nervoso central. Conforme Esteban Levim (2002: 161), ‘… o que escreve é um sujeito-criança, mas, para fazê-lo, necessita de sua mão, de sua orientação espacial (lateralidade), de um ritmo motor (relaxamento-contração), de sua postura (eixo postural), de sua tonicidade muscular (preensão fina e precisa) e de seu reconhecimento no referido ato (função imaginária)’.

Como na alfabetização a criança está entre os seus 6 e 7 anos, Diament (2005) defende que a criança começa, então, a consolidar a noção de direita e esquerda, bem como encontra-se em fase de maturação das áreas viso espaciais. Logo, é aceitável que haja espelhamentos de letras e números, o que diminui em frequência com o desenvolvimento das habilidades, com a maturidade e com a inserção da letra cursiva. Portanto, a confusão entre esquerda e direita, em imagens na forma simétrica, também é frequente.

Naquela parceria que mencionei lá em cima, quando cito que estratégias devem ser definidas para a escola e a família, deve-se levar em consideração tudo o que está sendo observado sobre o desenvolvimento da criança, em todos os ambientes sociais nos quais ela interage. Então… o olhar atento do professor, suas anotações sobre o desenvolvimento da criança, seu conhecimento sobre o processo, muito amor envolvido, empatia, parceria e diálogo aberto com a família são ingredientes de uma receita de muito sucesso.

Enquanto pais, se você tiver alguma dúvida sobre o processo educacional do(a) seu(sua) filho(a), converse com a escola. Escute o(a) professor(a). Se aquela pergunta lá do título não estiver muito clara para você, ele(a) será a melhor pessoa para te ajudar. Além do(a) seu(sua) filho(a), claro!

Viviane Cupello é amante da Educação, das Artes e de Pessoas. É professora e pedagoga, especialista em Gestão Escolar e em formação na Gestão de Pessoas. Estudou teatro, sempre foi apaixonada pela escrita, escreve poemas no canal ‘Poetizei Poetizamos’ e tem como um dos propósitos de vida o trabalho social. Atua na Educação há 20 anos: é alfabetizadora, lecionou em turmas a Educação Infantil e Ensino Fundamental I, coordenou o turno Integral e ministrou cursos de Escolarização, Atualização e de Formação para adultos. Fundadora da CAPAS – Ações para Educação, acredita no desenvolvimento humano por meio da Educação.