Devaneios de uma 'quase' adolescente. Por Juliana Fernandes Gontijo.

Como eu queria que o mundo tivesse todo o efeito da mágica. Sim, daquela mágica dos ilusionistas, do circo, das festas de criança. Que ao toque da varinha todos os meus desejos fossem realizados. Ao piscar os meus olhos tudo o que eu sonhasse pudesse se tornar realidade. Num dia frio, por exemplo, ao acordar, eu gostaria que uma rosa chegasse voando no meu quarto. E, de dentro dela, “brotasse” um bilhete escrito:

“Bom dia, querida. Eu deixo uma rosa para a mais linda das rosas…”. Ass. O mágico da sua vida.

Como eu gostaria de ter a delicadeza das mãos dos ilusionistas, que fazem aparecer pessoas onde não existem, água onde está furado, neve onde faz Sol.

Se eu pudesse, não queria crescer. Seria bem melhor ficar no meu tamanho de hoje, para caber dentro daquelas caixas que transformam meninas em coelhinhos, ou em lindas bonecas e as que até mesmo cortam pessoas pelo meio. É possível sair tantos objetos de dentro da cartola? Ah… é muita coisa para a minha pequena cabeça pensar.

Perguntei a um mágico, certa vez, como ele fazia esses números que tanto amo. Ele me devolveu a pergunta com outra:

– Você sabe guardar segredo?

– Sim.

– Eu também sei. – Disse soltando uma gargalhada que eu jamais escutei em toda a minha vida.

Fiquei muito decepcionada, pois eu sou muito curiosa, mas cada um na sua, né? Acho que se ele realmente me dissesse a verdade iria perder toda a graça!

Como eu gostaria de desembolar uma folha de jornal e tirar de dentro dela a paz que ainda não existe por completo no coração dos seres humanos. Porque no coração dos animais ela reina incessantemente. A bela ave branca é apenas um símbolo do truque ou da “ilusão de ótica”. Também queria muito desamarrar as cordas que eles têm… para que todos os nós da vida fossem desatados. E, para os mágicos, existem ou não os nós das cordas? Ah… mas aquele que não tem esse talento apenas diz que viu e não consegue entender nadinha. Para muitos, visível; para outros, nem tanto.

Sempre sonhei dizer “a” palavra mágica, porém eu não tenho esse poder. E ficam as minhas dúvidas:

Porque o sonho acabou?

Porque só as crianças acreditam que a magia existe?

Mas, e eu? Eu também acredito nisso. Porque os mágicos existem. Eu conheço vários, uns engraçados, outros com cara de mau, que fazem uns truques que ninguém entende ou são bastante perigosos, e, ainda, aqueles caras de pau.

Como vou saber se o que ele faz é do mundo mágico ou é do mundo verdadeiro? E se eu quisesse que tudo isso fosse deste segundo mundo?

Como eu faria para ter o mundo ou a magia em minhas mãos? Viraria uma aprendiz? Não. Infelizmente, no mundo real, os mágicos fazem parte apenas dos sonhos das pessoas, do meu sonho de uma criança quase adolescente.

Sim, os meus sonhos estão presos à ilusão das bolinhas, dos lenços, das cartas de baralho desaparecendo sem deixar rastros, assim como as pessoas, ou os sentimentos humanos que estão infinitamente ligados uns aos outros.

Eu acho que as pessoas, às vezes, se parecem muito com os objetos mágicos… Então, eu me pergunto como as pessoas e os sentimentos humanos podem sumir, assim, tão repentinamente? Vai entender o lado “mágico” da vida…

Juliana Fernandes Gontijo é jornalista por formação e atriz. Apaixonada pela língua portuguesa e cultura de maneira geral, tem bastante preocupação com sustentabilidade e o destino do lixo produzido no planeta.