De volta para o futuro. Por Carlos Brickmann.

Na semana que vem, este evento fará 52 anos. Eu atravessava o centro de São Paulo a pé quando cruzei com impressionante multidão, liderada por uma freira, a Irmã Ana de Lourdes, mais o governador, deputados – na época, atraíam público. Dizem que até um metalúrgico, que ficaria famoso, marchou com Deus pela liberdade. Foi difícil passar pela massa, chegar à Folha e comentar: “Tem gente pra caramba”. Contestação imediata dos colegas de esquerda: na rua só havia milionários. Todos? Não: para fazer volume, tinham levado babás e empregadas.

Nos dias seguintes, mais negativas. A cada general que se declarava contra o Governo de João Goulart, citava-se outro que defendia o presidente. Havia as Ligas Camponesas, que invadiriam as cidades para dar apoio a João Goulart. O dispositivo militar, generais de muitas estrelas, a Casa Militar, o 3º Exército, o 2º Exército do general Kruel, amigo de Goulart. Cabos e sargentos rejeitariam ordens superiores e defenderiam o regime. Tinha roubalheira em Brasília? Tinha, mas em São Paulo também havia. Luís Carlos Prestes, maior líder comunista, proclamava a vitória: “Já estamos no governo, só falta alcançar o poder”.

As Ligas Camponesas se evaporaram, o dispositivo militar não havia, o 3º Exército foi neutralizado, o general Kruel marchou contra o amigo Jango. Tivemos 21 anos de ditadura e sofrimento. Ninguém aprendeu, só esqueceu. Mudança? Em vez de chamar os adversários de gorilas, agora os chamam de coxinhas.

Parece familiar? E é. Mas Lula e PT parecem felizes de buscar o confronto.

O poeta é um vidente

A letra todos conhecem: “Mamãe, eu quero/ Mamãe, eu quero/ Mamãe, eu quero mamar (…)” Mas não são todos que sabem quem é o autor da letra desta música, sucesso de 1937: José Luís Rodrigues.

Seu apelido, famoso, é Jararaca.

Panela no fogo

Muitas coisas devem se precipitar nos próximos dias na área das investigações. Falta homologar a delação premiada de Delcídio, há o depoimento de Lula marcado para o dia 14, e há algo ainda mais explosivo: Marcelo Odebrecht, principal executivo da maior empreiteira do Brasil, foi condenado pelo juiz Sérgio Moro a quase vinte anos de prisão. Mas Moro abriu-lhe uma possibilidade: embora já condenado, pode fazer delação premiada. E, se alguém sabe das coisas – e não apenas com relação ao PT, mas também à oposição, e não apenas com relação a Brasília, mas também a Governos estaduais – é Marcelo Odebrecht. Mesmo que ganhe benefícios a partir do cumprimento de um sexto da pena, serão quase seis anos de regime fechado, o que pode ser insuportável para alguém habituado a bom padrão de vida.

Traduzindo: como resistir à delação premiada?

O difícil convite

Lula e seus partidários reclamaram da condução coercitiva que lhe foi imposta para depor, alegando que ele, sempre que convidado, prestou declarações sem criar qualquer problema. Acontece que foi arrolado como testemunha de defesa do pecuarista José Carlos Bumlai e o oficial de Justiça estava tendo dificuldades para entregar-lhe a intimação.

Resultado: enquanto depunha à Polícia Federal, sob condução coercitiva, o oficial de Justiça entregou-lhe a intimação.

PMDB, PP e a ética do PT

Em 2004, muita gente e poucos animais foram vítimas do tsunami que atingiu a Indonésia. Boa parte dos animais percebeu que a região se tornaria perigosa e se refugiou em locais mais seguros.

A propósito, o PMDB deve afastar-se de Dilma. O PMDB apoia o PT desde 2003, quando Lula se elegeu. Agora reage à “má gestão”. E, segundo a proposta de ruptura, divulgada pela repórter Andréia Sadi, da Globonews, acha intolerável “a crise ética” que “avilta a nação”. O PP também deve romper com Dilma, também por motivos éticos. Paulo Maluf, que ao descobrir suas afinidades com Lula, Dilma e Haddad tinha virado pró-petista de carteirinha, lançou o governador tucano de São Paulo, Geraldo Alckmin, à presidência da República.

PMDB e PT não suportam um ambiente sem ética.

Tudo acabou

Quando PMDB e PP largam um Governo, esqueça a ética. É que a teta secou.

Dilma, a solitária

O problema de Dilma não se reduz aos partidos de sua base de apoio. O professor e ex-ministro Delfim Netto, que exerceu uma certa assessoria informal para Lula, critica abertamente o Governo. Empresários que sempre apoiaram o PT fazem hoje sérias restrições a Dilma. Um bom exemplo é Lawrence Pih, do Moinho Pacífico, talvez o primeiro empresário a apoiar os petistas: “A presidente perdeu a pouca capacidade de governar que lhe restou”.

Verdade verdadeira

Vale a pena ler ao menos este parágrafo da proposta de ruptura do PMDB com o Governo. Para quem sabe quem é quem, é uma delícia.

“Queremos, dentro do Partido e com a sociedade, debater e apontar soluções para o Brasil, que tenham sempre a questão ética e moral como base, criem um novo pacto federativo, reduzam a máquina pública e retomem o desenvolvimento econômico e social para todos os brasileiros, como vem sendo proposto por Michel Temer”.